O QUE A CHUVA FAZ
Renato Ferraz
A cidade dorme silenciosa,
as ruas estão vazias
e a noite está fria.
Chove forte,
as calçadas estão sombrias
e as esquinas, em alerta.
O inverno chegou.
Ouve-se a chuva cair
e o vento assobiar.
Um homem à janela
observa tudo acontecer e
resolve sair para ver de fora;
viver a emoção do outro lado.
Sai caminhando,
encontra um bar aberto
e a música é alegre.
Pessoas dançam animadas e
uma mesa chama a atenção.
Pingos de chuva a molham,
vê-se derramar euforia,
as moças dançam e
uma envia-lhe um olha atraente,
olhar insistente.
Sorriso carinhoso.
Aquele perfume gostoso.
Uma mistura de suor e
gestos insinuantes.
Sorriu com os olhos,
insistiu com a boca.
Uma aproximação.
O brinde de comemoração.
O perfume sensual.
Um abraço demorado.
O beijo da noite.
Olhar exposto à mesa,
palavras vindas do copo
umedecem as bocas e
cede-se às investidas.
A pele é macia e arrepia
e o cheiro bom aproxima.
Mais doses de palavras
misturadas às do copo
afinam-se aos desejos...
O sinal é intermitente
já é madrugada,
as mãos
entram na contramão,
a esquina e o beco
são o mesmo.
Calçada e cama
são volumes paralelos,
não há quem diga o contrário;
a hipocrisia é enterrada,
amanhã se saberá o que houve...
|