Homenagem ao Poeta Antônio Cicero
Por Renato Ferraz
Carlos Drummond, perguntado sobre a perda, à época, de Vinícius de Moraes
como poeta, respondeu que a morte de um Poeta realmente deixa um vazio,
porém resta-nos o que ele nos deixou de bom, de ensinamento, a sua obra!
Portanto vale afora o mesmo que disse o Mestre!
Enquanto nós lamentamos, mas compreendemos a sua ausência entre nós;
eu imaginei a seguinte cena: no céu, Vinícius de Moraes, como seu conterrâneo,
ficou responsável pela organização da cerimônia que receberia o amigo poeta.
Fez a abertura junto de Drummond, Bandeira, Quintana, Ferreira Gullar
e de muitos outros amigos Poetas que compareceram para lhe dar o abraço de boas-vindas!
Vinícius, então iniciou a homenagem proferindo: prezado e querido amigo poeta Antônio Cícero,
sua chegada quase coincidiu com o meu aniversário, por isso mais um motivo para estender a comemoração.
Em seguida leu o seguinte poema:
Quem já passou por essa vida e não viveu,
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu.
Porque a vida só se dá pra quem se deu,
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu.
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não.
Não há mal pior do que a descrença,
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão.
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair.
Pra que somar se a gente pode dividir.
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer.
Ai de quem não rasga o coração,
Esse não vai ter perdão.
Quem nunca curtiu uma paixão,
Nunca vai ter nada, não.
Passou a palavra para Drummond para finalizar.
E Drummond então, prosseguiu:
E agora, Antônio? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu,
a noite esfriou, e agora? e agora, você? você que faz versos,
que ama, protesta? e agora? E agora, Antônio? Sua doce palavra,
seu instante de febre, quer ir para o Rio. O Rio não há mais.
Mas há outro céu. Está aqui conosco. Cícero, e agora?
Você morreu, não quer dizer que você é mole, amigo!
Todos aqui também morremos. Lá, todos morrerão, Cícero!
Não existe outra opção! Por isso há um propósito para se viver,
Morrer é não saber o que irá acontecer. É assim que está posto!
É parecido com nascer. Quando se nasce, nada se sabia também.
Morrer não quer dizer apenas que tudo acabou, mas, sim,
que tudo tem seu tempo de acontecer, a gente até pode não entender.
Há que se pensar que são tempos diferentes. Você não está só, Cícero!
Estamos aqui para lhe abraçar e lhe desejar boas-vindas!
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