Estava tomando um whisky com gelo, próximo a uma piscina, quando sem querer ouvi um diálogo que vinha de pessoas, que tomavam banho, ali.
Não dava para perceber os coadjuvantes, já que a piscina ficava no alto, e eu estava sentado em nível bem abaixo e sem visão da água.
Mas recordo bem o que ouvi:
Não entendo você! Mal chega com seu corpo amarelado, com uma gola branca olhando-me sem parar.
Sei que você não fala, é muda ou mudo? Não dá para perceber o seu estado. Está com um paletó preto neste calor tremendo.
Por que me olhas assim?
Não pode responder, mas tenho certeza que está entendendo!
Quer mergulhar? Fique à vontade, tem lugar de sobra, entre!
Terei que sair? Tudo bem!
O homem saiu, reclamando muito, curioso levantei e subi às escadas e olhei para dentro da piscina.
Surpreso não vi ninguém! Só podia ser um maluco, pensei!
Prestei atenção, procurei bastante, não era possível fazer tal julgamento. Tinha alguém com ele!
Minha curiosidade aumentou, e decidi depois de algum tempo, conversar com aquele senhor.
Pedi licença e perguntei ao homem se ele poderia matar minha curiosidade. Ele solícito disse que sim!
Perguntei se era paranormal? E ele rindo, disse que não. E perguntou por que?
Meio sem jeito tive que confessar que tinha ouvido sua conversa com alguém. Ele riu!
Seria alma do outro mundo? Não vi ninguém passar por mim, mas sabia que ele conversava com alguém!
O homem ria muito e escancaradamente, até urinou-se de tanto rir. Fiquei pasmo, só podia ser um louco. Pensei!
Fiquei zangado e pedi licença para retirar-me. Mas aquele senhor, rindo, pedia-me um momento.
Assim que se refez do riso, explicou tudo: Vivia em uma fazenda, só. Não tinha com quem conversar, e aprendeu a linguagem das árvores, das flores e dos pássaros.
Perguntei então com quem ele estava conversando?
Simplesmente, ele com um sorriso maroto, disse: Com um "bem-te-vi"...rs.
Retruquei dizendo que não vi nenhum "Bem-te-vi"! Ele respondeu que sempre que sai da água o pássaro voa, para avisar sua família, que ele vai tomar um banho e logo estará em casa.
Ele então apontou para aquela piscina. Veja quem está lá se refrescando! Olhamos e vimos um lindo pássaro de peito amarelado com suas asas escuras. Ele disse: Veja como é lindo! É o meu amigo "Bem-te-vi"...
Ele então, disse que por conversar com a natureza, geralmente tem alguém como eu que fica intrigado e pergunta com quem ele conversava?
Ríamos muito!
Aprendi que não devemos julgar às pessoas, antes de saber dos fatos. Desde então, nunca mais fiquei só. Aprendi à linguagem dos pássaros, e encontrei um sabiá que pelas manhãs trinando, sempre me acorda. Converso com o sol; também com minha amiga chuva! Converso com rosas, jasmins; e outro dia fiz amizade com um pardal que muito novo, estava aprendendo a voar, e caiu na piscina. Teve sorte por eu estar no balanço, quando vi ele se debatendo na água. Corri e com o pescador, puxei-o para mim.
Agasalhei-o e sequei com o aquecedor de cabelos. Mantive uma boa distância para não queimar o passarinho.
Depois de seco e quando estava seguro que ele estava bem, dei um pouco de arroz.
Senti-me como um Deus. Dei vida ao pássaro! Há muito não sentia tanta alegria, e soprando suas asas e o corpo da ave indefesa, coloquei-o no meu peito e como uma mãe, conversei com ele, e parecia que ele entendia. Ficou manso e já que não conseguia voltar para o ninho, fiz várias tentativas, mas ele sempre voltava e piando muito, peguei-o de novo. Dei comida e água, e arranjei uma caixa sem tampa, e lá o deixei.
Pela manhã, ele estava voando dentro de casa, abri a janela e ele alçou vôo. Quando pensei que ia embora, vi que ele gostou do carinho, e do novo ninho. Voltou e comeu o arroz.
Hoje ele está em casa comigo. Por vezes desaparece (acredito que vá namorar), mas sempre volta!
Por vezes acho graça de mim! Como pude viver tanto na solidão? Quanta vez queria uma alma para conversar e não tinha. Agora em minha vida, não falta amigo. Veja você, que está lendo o que escrevi! Com certeza ganhei outro amigo!
Acredito que sua solidão foi embora, para nunca mais voltar...