O que é o bem? O que é o mal? O bem de uns pode ser o mal de outros. Muitas vezes, que é errado para uns pode ser certo para outros. Então, parece que devemos procurar algum critério lógico ou democrático para escolher o bem. O bem deve ser algo que traga felicidade.
“Sempre emerge de dentro de todos nós, vindos de qualquer cultura, o sentimento de certo e errado. Até mesmo um ladrão se sente frustrado e mal tratado quando alguém o rouba. Se alguém rapta uma criança da família e a violenta sexualmente, há uma revolta e raiva que confrontam aquele ato como maléfico, independente da cultura. De onde vem essa noção de errado? Como explicamos uma lei universal na consciência de todas as pessoas, que diz que assassinato por diversão é errado? Em áreas como coragem, morrer por uma causa, amor, dignidade, dever e compaixão; de onde vem isso tudo? Se as pessoas são meros produtos da evolução física, "sobrevivência do mais forte", por que nos sacrificamos uns pelos outros? De onde herdamos essa noção interior de certo e errado? A nossa consciência pode ser mais bem explicada por um Criador amoroso que se importa com nossas decisões e a harmonia da humanidade”. (Marilyn Adamson)
A luta entre o bem e o mal, entre Deus e o Diabo parece ser o maior mal da humanidade. Os povos mais primitivos criam haver muitos deuses, cada um comandando uma força da natureza, e a vontade dos deuses das coisas boas, produto das cabeças dos seus seguidores, era o bem a ser seguido. Os persas simplificaram um pouco o universo divino, com Masda (deus do bem) e Arimã (deus do mal). Já os hebreus, monoteístas, idealizaram Satanás, o anjo caído, como comandante das forças do mal. Entretanto, os chamados defensores do bem sempre fizeram muito mal à humanidade.
Os reis do Egito, da Babilônia e outros que se destacaram no passado assassinavam os que não se curvassem e adorassem seus deuses.
Ainda que perfeito, justo e bom, o onipotente Jeová teria determinado ao seu povo escolhido a destruição de diversas nações e se comprazia com o cheiro da carne queimada de animais e até mesmo a morte de seres humanos que lhe eram oferecidos. Sua vingança atingia até a terceira e a quarta geração de quem desobedecesse à sua vontade.
Jesus, o Cristo, não pregou violência. Seus seguidores deveriam resignar-se a todas as injustiças e convencer o mundo à paz, devendo receber sua recompensa após o dia do julgamento divino em que os maus sofreriam o devido castigo. Mas os que se denominaram seus sucessores, seus representantes na Terra, entregaram-se à vingança e destruição de todo e qualquer indivíduo que se opusesse às suas regras. Milhares de pessoas foram queimadas ou mortas sob outras formas de tortura, tudo em nome do bem, em nome de Deus.
Hoje, quando grande parte das religiões são pacíficas, algumas ainda procuram fazer guerra santa contra quem não compartilhe de seus credos, e o terrorismo que assusta o mundo atual também é chamado de guerra do bem contra o mal. Mas, que bem é esse, que reprime os prazeres, impõe até os pensamentos e comete grandes atrocidades?
Li o artigo “Em nome do bem contra o mal”, de José Pedro Antunes, e concordo que é mesmo uma realidade onde é difícil definir onde está o bem, e o mal é visível de ambos os lados. Mas há um dito popular que afirma: “dos males o menor”, não obstante a classificação de mal menor ou mal maior também possa variar muito do ponto de vista de cada pessoa. Assim, haverá leitores compartilhando do meu ponto de vista, como haverá outros se contrapondo a ele.
Vivemos em um país dominado pelo capitalismo, cheio de injustiças sociais, e ouvimos cada dia novos escândalos políticos. Estamos muito distante de ter um governo ideal. Por outro lado, podemos criticar abertamente as corrupções dos governos; podemos, pelo menos em parte, escolher o que fazer na vida; eu posso ser ateu e divulgar isso em livro e pela internet; você pode professar a religião que imaginar ser a correta e pregar seu evangelho aos outros sem qualquer oposição política, e mesmo em política podemos escolher a corrente que quisermos; ainda que pouco possamos fazer, podemos pensar livremente e expressar o que pensamos.
Agora imaginemos vier sob uma miséria maior, proibidos de quase tudo que nos dê prazer, sem meios de comunicação, sem esportes e lazer, obrigados a cumprir ritos supostamente impostos por um deus todo-poderoso que, após todos esses castigos deste mundo, ainda ameace a nos mandar para um inferno de fogo infindável como o idealizado pela fértil imaginação religiosa. Para mim parece um mal bem maior. Não sei se o é para você, leitor.
Se os protestantes do final da Idade Média tivessem permanecido passivos ante o papismo e Napoleão não tivesse subjugado o papa no final do Século XVIII, com certeza a Igreja Católica estaria queimando pessoas vivas nas praças até hoje em nome de Cristo. Para quem, como eu, olha este ângulo da história, nada é mais assustador do que a perspectiva de viver sob o domínio de um poder político-religioso.
Longe do que disse Marilyn Adamson, a noção de certo e errado é extremamente contraditória, o que denota ser produto da evolução humana em meio a circunstâncias as mais variadas. E muitas vezes vemos mais sentimento de bondade e justiça entre alguns animais irracionais do que na maioria dos seres humanos.
Felizmente os comandantes do capitalismo atual defendem ampla liberdade de pensamento. Entre direitos humanos, com todas suas falhas, e direitos divinos, não tenho dúvida na escolha. Não acho que o bem seja a ausência de liberdade de pensamento e imposição de comportamentos totalmente contrários à nossa natureza. E você, leitor? Tem certeza de qual é o bem e qual é o mal?
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