Resumo de História – Evangelhos Sinóticos
Aluno: Rodrigo M.Martins
Prof. José Adriano Filho
Autores consultados:
- Rafael Aguirre Monasterio
- Antônio Rodríguez Carmona
- Leif E. Vaage
Os evangelhos Sinóticos compreendem os livros de Mateus, Marcos e Lucas, sendo que Marcos é o livro que nos parece mais antigo. Os evangelhos aparentam e são considerados pelos leitores leigos como livros fáceis e agradáveis de se ler, mas ao estuda-los de forma mais profunda, com uma leitura acadêmica, notamos sua complexidade. O autor coloca duas fidelidades a serem seguidas no estudo dos sinóticos: a primeira, é a dimensão religiosa e popular; e a segunda, é a crítica da cultura moderna. Seqüencialmente veremos a origem e a natureza dos evangelhos, depois o nascimento das tradições e sua transmissão nas comunidades primitivas, seguindo o método de Aristóteles, que é estudar as coisas no processo de seu desenvolvimento, a partir do começo.
Os quatro evangelhos canônicos são composições anônimas e foram escritas entre os anos 65-90 d.C., foram reunidas aproximadamente em 125 d.C. Por evangelho entende-se “bom anúncio”, do grego eu aggelô, e é evidente que designa pregação oral e não textos escritos. Resume-se numa confissão de fé os que considerava como testemunhas da salvação de Deus para a humanidade através de Jesus, que se realiza a autêntica boa notícia.
Na origem dos evangelhos vemos três divisões necessárias: grupo pré-pascal, a comunidade pós-pascal e a redação dos evangelhos.
Comecemos pela comunidade pré-pascal. São exatamente os discípulos que desde o início estavam ao redor de Jesus e eram privilegiados com seus ensinamentos. Jesus anunciava o Reino de Deus em Cafarnaum, às margens do lago da Galiléia e tinha um caráter itinerante. O contexto em que Jesus vivia tinha como sistema de ensino a aprendizagem por memorização, as três instituições-chave eram a casa paternal, a sinagoga e a escola elementar, pois só mais tarde, ano 70, é que as escolas rabinicas viriam trazer novos conceitos de literatura e ensino. Os evangelhos são marcados de tal forma que pudessem ser facilmente decorados, Jesus usa linguagem poética, usa imagens, metáforas, simbolismos, expressões enigmáticas e penetrantes, tudo para que se pudesse memorizar melhor seus ensinamentos. Embora a mensagem de Jesus esteja tão vinculada à sua pessoa, a importância desta é tão singular, que era impossível transmitir os ditos de Jesus sem fazer referencias à sua vida e à sua pessoa.
A comunidade pós-pascal já tinha uma visão diferente, era o mesmo grupo, só que já contavam com uma fé mais aprimorada, pois tiveram um encontro com o Jesus ressuscitado, e já se preocupavam não só em repetir as palavras do mestre, mas também de interpretá-las, mantendo a fiel tradição conforme escutaram/viveram com Jesus no passado. Agora tinham a consciência que Jesus não era um mero mestre, mas sim o Senhor ressuscitado, pois tiveram um contato todo especial quando estiveram com Jesus, “ a começar do batismo de João até o dia em que de dentre nós foi arrebatado” (At 1:21-22).
Os discípulos eram judeus, faziam suas interpretações com mentalidade judaica, pois lhes era fundamental apresentar Jesus à luz da escritura, como seu cumprimento, então era obrigados a reler a palavra de Deus e desenvolvê-la. Não é exagerado afirmar que a referência ao A.T. é um momento presente em todos os textos dos evangelhos. Portanto um passo importantíssimo na interpretação de cada texto dos evangelhos é perguntar-se pelo seu conteúdo veterotestamentário. Depois da Páscoa se torna muito mas clara a importância da pessoa de Jesus e a inseparabilidade entre a sua doutrina e a sua pessoa, sendo a paixão destacada tendo um caráter unitário, sendo talvez o primeiro relato a ser escrito. O anúncio do evangelho se dá primeiro aos judeus e somente depois, aos gentios, quer dizer, a pregação missionária foi uma outra atividade da comunidade. A fé pós-pascal reconhece no ressuscitado o crucificado, e não outro; e exige fidelidade nas suas palavras e obras. Neste período a tradição oral não era transmitida unicamente, não podemos negar que havia também textos escritos, e eles conviveram e se afetaram durante muito tempo.
A redação dos evangelhos sinóticos; os apóstolos, após a ascensão do Senhor, transmitiram aos ouvintes aquilo que ele dissera e fizera, os autores sagrados escreveram os quatro evangelhos, escolhendo certas coisas das muitas transmitidas ou oralmente ou já por escrito, pois os escreveram, seja com fundamento na própria memória e recordações seja baseados no testemunho daqueles ‘que desde o começo foram testemunhas oculares e ministros da palavra’. O trabalho dos evangelistas vem descrito como:
- selecionar os dados da tradição oral ou escrita;
- realizar sínteses;
- adaptar a tradição recebida às situações das diversas igrejas;
- conservar o estilo da proclamação.
Falaremos agora da natureza dos evangelhos sinóticos tentando mostrar a finalidade
destas obras. Os evangelhos são textos narrativos que apresentam o curso da vida de Jesus e de seu ensinamento. Tanto no N.T, como no A.T. há textos argumentativos, narrativos, poéticos etc., porém, o mais específico da fé bíblica se expressa de forma narrativa. A característica da narração é transmitir acontecimentos e experiências histéricas. Um elemento literário fundamental da narração é a trama ou intriga, vemos essa características nos evangelhos, ex. a paixão. Qual a origem da trama evangélica? Vemos que é uma seqüência que se amplia até chegar no conceito paixão-cruz-ressurreição. A narratividade dos evangelhos sugere duas reflexões; primeiro trata-se de obras unitárias, coerentes e bem trabalhadas, não de uma mera recompilação de fragmentos preexistentes; segundo temos que ter cautela pois a consideração teológica dos evangelhos facilmente menosprezava ou desconhecia o aspecto narrativo e isso por várias razões.
Os evangelhos são narrações teológicas, porque descobrem na vida de Jesus a atuação de Deus e o cumprimento do A.T., os evangelhos são textos religiosos, partem da fé no Deus da Bíblia e em Jesus Cristo. nos evangelhos hoje quem fala é o Senhor ressuscitado à comunidade, através da vida e das palavras de Jesus do passado, que terminou na cruz, a luz da Páscoa ilumina todo o relato evangélico, mas somente o caminho que desemboca na cruz – narração de Jesus - permite chegar à Páscoa e compreender o ressuscitado. Os evangelhos foram escritos aos pés da cruz e para não esquecê-la. Jesus é o Senhor ressuscitado e glorificado, mas o Senhor ressuscitado não é senão o Jesus crucificado. É evidente que os evangelhos não são informações históricas, nem crônicas do passado. Nem biografias no sentido moderno: não descrevem o caráter do personagem, nem a sua evolução, nem todos os detalhes de sua vida a partir de seus antecedentes familiares e de sua infância. É impossível escrever uma vida de Jesus com rigor e exaustividade que pede nossa modernidade. Mas é preciso acrescentar que de nenhum judeu contemporâneo temos tantas informações fidedignas como de Jesus, sobre sua mensagem, suas atitudes, sua relação com o judaísmo etc., que se pode, afirmar com razoável segurança.
A finalidade dos evangelhos, três pontos importantes:
- O despertar e o fortalecimento da fé nas comunidades cristãs; o aprofundamento na fé a sua coerência vital é um processo permanente. E os textos evangélicos pretendem promover esse processo de conversão de cada cristãos e das comunidades.
- Fazer da vida de Jesus o paradigma para compreender as suas palavras; a característica dos evangelhos é o seu caráter narrativo, capaz de desenvolver toda a vida de Jesus até o seu final escandaloso. Os evangelhos pretendem conduzir-nos até a cruz ( esse é a trama) e dizer-nos que é através da cruz e da história que necessariamente implica como se conhece o filho de Deus.
- A visão equilibrada e sintética, literária e teologicamente, tanto da pessoa e da obra de Jesus, como do vínculo dos discípulos com ele; os relatos evangélicos caracterizam-se pela incorporação das diversas tradições, integrando-as numa visão unitária e equilibrada, que evite as unilateralidade e inclusive os erros a que está sujeita cada tradição tomada isoladamente.
A pluralidade de evangelhos; são assim chamados sinóticos, palavra que etimologicamente quer dizer: “ com uma olhada” (syn opsis), porque, efetivamente, os seus textos são de tal natureza que podem ser colocados em colunas paralelas, de modo que se perceba com rapidez e claridade as suas semelhanças e diferenças. Sem dúvida existe algum tipo de relação literária, mediata ou imediata, entre os sinóticos. Isto quer dizer que na igreja primitiva as narrações sobre Jesus eram rescritas. Havia um esforço continuo de fidelidade e atualização. Não lhes bastava receber passivamente, se esforçavam para completar e reelaborar a partir de sua própria experiência. A igreja sempre aceitou a pluralidade de evangelhos e se opôs aos intentos de ficar com um só ou realizar um relato, síntese de todos eles. Pela experiência sabemos que é muito melhor Ter quatro versões de um acontecimento do que uma só. Cada evangelista focaliza Jesus e sua mensagem a partir de uma perspectiva própria e em função das necessidades de sua comunidade. O “evangelho tetraforme” nos fala da riqueza da pluralidade e, por sua vez, da abertura à comunhão e à unidade, por isso todas estão abertas, em principio, a outras versões e interpretações.
A leitura vertical e horizontal dos evangelhos; da natureza dos evangelhos sinóticos seguem-se dois tipos de leitura, que não são antagônicos, mas complementares:
- a leitura horizontal ou comparada dos sinóticos; a comparação deve ser muito cuidadosa e recair sobre o texto e o contexto;
- a leitura vertical ou seguida de cada evangelho; consiste na leitura de cada evangelho como uma unidade narrativa, seguindo as diversas linhas de sua trama, do começo a té o final. A leitura contínua exige situar cada pericope em seu contexto, relacionando-se com o que antecede e com o que segue.
Os três níveis dos textos dos evangelhos sinóticos; na introdução afirmamos que, além de sua aparente simplicidade e popularidade, os textos sinóticos são os mais complexos quando se aborda seu estudo rigoroso, precisamente pela longa evolução, que aconteceu antes de sua redação definitiva. Distinguiremos os três níveis:
- Nível redacional; o que significa este texto na situação atual que apresenta a obra completa, atendendo ao contexto, situando-o no conjunto da trama?
- Nível tradicional; muitos fatores contribuíram à evolução de uma tradição, mas é importante também ler, na história de um tradição evangélica, a experiência de fé que se foi acumulando, seguir o itinerário de fé que fora transmitido e reelaborando cada pericope.
- Referencia histórica; os textos não terminam em si mesmos, mas falam de personagens reais e de acontecimentos históricos. Ma a qualidade desta referencia histórica não é a mesma em todos os textos. Nem todas as portas se abrem com a mesma chave. Igualmente é preciso analisar cuidadosamente cada texto para descobrir a índole de sua historicidade.
O estudo completo de cada perícope exige a passagem pelos três níveis mencionados. Cada perícope tem o seu próprio sentido. Evidentemente, a utilização teológica de uma perícope isolada sempre acaba situando-a no contexto vital da morte e ressurreição de Jesus cristo, que é o ponto de partida da fé.