Roberto cheio de preocupações, não queria ceder aos encantos da Igreja. Sabia da obrigação de dar 10% de tudo que ganhava para poder freqüentar qualquer templo. O pouco que ganhava não dava para comprar uma roupa nova, um par de sapatos ou tênis. Uma vida miserável de desempregado! O maior sonho era um dia poder fazer sua oração no templo de Deus.
Sempre que chegava próximo à Igreja; via pessoas bem vestidas dirigindo-se para os cultos ou missas, olhando-o com desprezo e enxotando o pobre rapaz. Seguranças, sempre o expulsava da escadaria antes de adentrar ao templo.
Um dia, após bater de porta em porta atrás de um serviço qualquer sem conseguir; esbaforido; deixou-se sentar sob uma marquise há duas quadras de um templo.
Mais um dia sem refeições!
Apenas um pão dormido, que uma senhora lhe deu, e que ele comeu, sorvendo um copo de água.
O maior problema para o rapaz era quando necessidade fisiológica. Faltavam banheiros nas ruas e no comércio. Ganhara da senhora uma blusa que ela tinha colocado no vasilhame de lixo.
Não reclamava da vida que levava. Sabia que da luta dos pais descendentes de escravos. Não tivera infância! Mas o amor dos pais, nunca lhe faltara. Quando seus pais encontravam alimento, o primeiro a ser servido era ele. Muitas das vezes comeu só, vendo alegria nos olhos dos pais, que hoje vivem em um albergue do Governo.
Era, um rapaz tranqüilo. Não bebia ou usava drogas. Mas, sem querer pela primeira vez começou a resmungar com Jesus. Sua voz de murmúrio, era um brado sem que ele percebesse. Orava com Deus:
- Senhor porque sabendo que nunca lhe pedi nada, o senhor que assiste tudo não acaba com essa violência das pessoas, já que elas estão sempre no seu templo, e quando saem das orações esquecem tudo que lhe prometeu?
Contou uma história de um mendigo que xingava pessoas que lhe negava comida. Conversava citando aquele seminarista que tímido não tinha coragem de pregar. Falava com tanta fé que não percebeu o timbre da sua voz.
Orava para os fies que mesmo indo às Igrejas, não cumpriam o que juravam no altar diante de Jesus. Dizia sempre que não entendia tantas injúrias e estupidez?
- Por favor, Senhor faça de mim teu mensageiro, e coloque em minha boca palavras que possam atingir o coração dessas pessoas. Não quero riqueza, mas apenas frases que possam atingir almas esquecidas do seu sofrimento. Vociferava em voz alta!
- Senhor, olha que essa multidão que o segue, são pecadores que mesmo orando não percebem que muitos estão na sarjeta. Não mendigam comidas, querem apenas um emprego. Desperta-os! Só você pode Senhor!
- Não quero nada para mim, que tenho você para conversar. Mantenha-me assim que amanhã terei um serviço de jardim. Hoje não foi possível, mas amanhã ou depois vou conseguir!
Roberto não estava só, mas não percebeu que juntava em torno dele uma grande multidão. De repente alguém gritou que Deus estava ali. Todos se ajoelharam diante do homem, que continuava conversando com Deus.
- Roberto após orar um Pai Nosso, agradece ao Senhor por ouvir seu lamento.
Surpreso com aquela multidão que o aplaudiu, envergonhado agradeceu!
E, de repente alguém diz que viu Jesus próximo a ele.
Roberto negava, porque o Senhor estava longe cuidando de pessoas mais necessitadas como de Jerusalém e Palestina. Os mortos do World Trade Center. Dos doentes que morrem de fome, os abandonados nos asilos pelos filhos, que gastam em orgias e drogas a pensão dos pais.
Ele dizia que Jesus sabia o quanto ele era feliz. Conhecia sua fé que o alimentava.
Alguns ofereceram esmolas, mas Roberto pedia que dessem para os outros que não tinha fé, mas passavam fome.
Os dirigentes do Templo sabedores do que se passara, comunicaram a Policia que Roberto insuflava o povo contra a Igreja. Com a queixa formalizada, os policiais pegaram Roberto e o levaram para a Delegacia.
Roberto jurava inocência, mas acabou gostando.
O Delegado fora avisado por sua esposa, que assistiu a oração de Roberto. Relatou o que ela lhe narrou.
Os religiosos ameaçaram o Delegado caso ele soltasse o falso pregador.
Não podendo evitar a prisão que seria transformada em inquérito, encaminhou Roberto para uma cela especial que servia aos portadores de Curso Superior. Estava desocupada, porque o único ocupante um pastor fora inocentado no caso de estupro contra seis jovens, que foram acusadas de prostitutas.
Os assistentes da oração quando souberam da prisão rumaram para a Delegacia, preparando um abaixo assinado para a libertação.
Roberto deitado no sofá assistindo televisão, após saborear uma refeição levada pela esposa do Delegado.
O preso preocupado em não murmurar alto, agradecia ao Senhor aquela refeição, e pedia que ele perdoasse quem lhe tinha levado para a Delegacia.
- Será que eles não sabiam da generosidade da mulher do Delegado? Verdade que o Senhor estava presente?
- Uma voz do alto sussurrando, disse-lhe: “Eu estava ali com você, porque não tinha lugar no templo para mim”.
Fim.
Dedico esse texto aos anjos da Terra. Que iguais a Cláudia de Santa Izabel-SP, e Lourdes Costa Alves, por onde andam; ou em cada frase que escrevem ou pronúnciam, nos apresenta um DEUS infinitamente piedoso e maravilhoso.
A fé que nos apresenta é pura e livre dos dogmas religiosos.
Cláudia é tão fiel que esquece o quanto precisa de um milagre para viver sem dor.
Assim com essa homenagem, peço ao Senhor para não descuidar dela, que é a própria fé.
Simplesmente as minhas homenageadas, são o sinônimo de fraternidade e amor ao próximo.