ÍNDICE
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Embora do tamanho de um frango, aquela ave não foi capaz de nos satisfazer. Apenas amenizou a nossa fome. Mas isso foi o que menos importou. Só o fato de estarmos comendo algo que nos lembrava a comida de casa provocou-nos uma tremenda alegria. Dir-se-ia que dali em diante todos os nossos problemas alimentares tivessem terminado, o que não era verdade, pois mais cedo ou mais tarde aquelas aves também acabariam.
Durante um bom tempo fizemos planos para os próximos dias. Prometi caçar no dia seguinte logo de manhã e, dessa vez, trazer pelo menos mais duas aves como aquelas. Marcela por sua vez prometeu que, com a ajuda das meninas, buscariam pedras para construir uma espécie de churrasqueira e depois apanharia bambus para fazer os espetos, embora não tenha explicado como faria para transformá-los em espetos para churrascos.
Luciana por sua vez, talvez para não ficar por baixo, disse que daria uma volta pela ilha, procurando atentamente por mais algum pedaço de metal ou algo que servisse para construir instrumentos de corte, pois o machado e a faca de pedra não eram suficientes.
O manto da noite já tinha envolvido toda a ilha quando decidimos dormir. Antes porém, para nos livrarmos da gordura impregnada em nossas mãos, Marcela sugeriu tomarmos todos um banho de mar. Luciana chegou a dizer que não iria, mas mudou de opinião quando me viu dizer a Ana Paula e Marcela que as acompanharia.
Devido ao cansaço, peguei no sono assim que deitei. Não sei se se Ana Paula e Luciana dormiram tão rápido quanto eu. Ainda mantínhamos o ritual de vigiar a fogueira para que não se pagasse. Até porque agora éramos mais dependentes dela do que antes. Sem fogo não se podia assar os peixes e as aves. Por isso Marcela teve de ficar acordada. E quando ela me chamou para assumir seu lugar, eu me sentia como se tivesse acabado de dormir. Lembro-me de indagá-la se realmente já chegara minha hora.
-- Já sim! Vocês já estão dormindo há um tempão. Já fui no mar umas quatro vezes para lavar o rosto e tomar um banho para espantar o sono – disse ela.
-- Se eu ficar, também vô fazer isso. Ainda mais que tá muito calor – falei.
Talvez por estar com sono, ela não estendeu a conversa e foi ocupar o meu lugar na cama.
Não demorou a pegar no sono.
Sozinho ali, fitei-a por algum tempo, desejando-a enquanto era consumido pelas fantasias sexuais. Súbito porém, senti vergonha do meu ato e decidi dar um mergulho. E como não pretendia retornar imediatamente, abasteci a fogueira, o que fez com que o fogo ficasse mais force e a luz transformasse o interior da cabana em dia.
Não passei muito tempo dentro d`água embora estivesse refrescante. O medo daquela mata me fez antecipar o retorno.
Ao aproximar, dei de cara com Luciana, saindo.
-- O que foi? -- perguntei.
-- Estava indo atrás de você – disse ela.
Só então me lembrei da promessa de mais cedo, o que me fez maldizê-la. Pois em se tratando de Luciana, uma promessa jamais fica só na palavra.
-- Pensei que tinha acontecido alguma coisa – falei, procurando dar uma de desentendido.
-- Não. Só não estava conseguindo dormir. Estava esperando a Marcela dormir para me levantar. Na verdade, eu estou pegando fogo – afirmou, abraçando-me e aproximando os lábios dos meus, procurando o meu beijo. -- E só você pode apagar ele – acrescentou, jogando os quadris contra os meus.
Não havia como escapar. Teria não só de cumprir com a minha promessa como procurar satisfazê-la ao máximo para que me deixasse em paz o resto da noite.
Afastamo-nos o suficiente para não sermos vistos, caso alguma das meninas acordasse. Então nos entregamos às carícias e ao prazer. Aliás, muito mais ela do que eu, pois meus desejos não eram com ela.
Luciana não teve a menor dificuldade em me excitar e me levar a penetrá-la. Apesar da falta de interesse, a excitação acabou me despertando o desejo, o que me fez possuí-la não como um garoto verde, mas como um homem que, graças a experiência, sabe segurar o fluxo e retardar o fim, com o intuito de levar a parceira à satisfação.
Ela não é uma pessoa que se satisfaça com um orgasmo, como o amigo leitor já deve ter percebido; contudo, não procurou o segundo. Aliás, talvez sentindo a ausência do fluxo quente em suas entranhas ou a minha falta de desfalecimento, demonstrou impaciência ao ordenar:
-- Se vai gozar, goza logo; se não, sai de cima de mim, que esse nhenque nhenque teu tá me enchendo.
De fato eu o procurava obstinadamente e estava muito próximo de alcançá-lo. Mas aquelas palavras me enfureceram. Ainda mais porque lhe achei estranho a impaciência. Não estava acostumada agir assim. E apesar de já me ter deixado na mão antes, em nenhuma das oportunidades agira assim.
Apesar fogo de mais cedo continuar a me queimar, tombei para o lado um tanto desapontado, e, fitando-a, indaguei:
-- O que foi?
-- Estou preocupada – disse ela pensativa.
-- Cum quê?
-- Com o nosso filho. O que mais seria?
Ela virou de bruços, apoiou as mãos na areia e se levantou.
-- Mas essa história de novo! Quem disse que você tá grávida? -- insisti. Nos últimos dias vinha falando dessa gravidez com mais frequência embora eu achasse que ela só fazia isso para me afastar de Marcela e manter o controle sobre mim.
-- Eu sei – respondeu convicta, como se não houvesse nenhuma dúvida.
-- Como ocê sabe?
-- Porque eu sei, ora! Eu sei o que acontece comigo. Estou diferente. Até os meus peitos tão ficando meio doloridos. Acho que eles tão crescendo. E também era para eu ter ficado menstruada há dias. Ela está muito atrasada. Já te disse: eu esto grávida, seu idiota! Você queira ou não, é o pai dessa criança que tá aqui dentro – nesse momento, ela começou a acariciar o ventre, passando de forma circular a mão na barriga. -- Não vai demorar e ela vai crescer. Meus peitos também. Vão ficar grandes. Dois peitões. Bonitos. Aposto como você vai ficar doidinho para chupar eles. Mas não vou deixar. E só vou deixar você enfiar esse troço em mim por trás, no meu cu, pra não machucar o nosso filho.
-- Você num tá grávida coisa nenhuma! Aposto como tá inventando isso – retruquei. Por mais que ela insistisse, eu não podia aceitar o fato de tê-la engravidado. Aliás, eu não me via capaz de engravidá-la e nem qualquer uma das meminas ali. Pois não achava que o meu órgão sexua fosse capaz de gerar uma criança. E embora não fosse de todo inocente e soubesse que os bebês vêm da barriga das mulheres, não fazia a menor ideia de como eles chegavam lá antes de começarem a crescer. Na verdade, eu pensava que a mulher tinha um filho quando ela se casasse e então tomava alguma coisa para ficar grávida. E apesar de Luciana ter me explicado como a coisa realmente acontecia, eu não me via capaz de fornecer a semente de uma nova vida.
-- Deixa de ser idiota, moleque! Para que eu ia inventar uma coisa dessas?
-- Porque você fica falando que eu sô seu marido, que queria que eu te fizesse um filho. Já te disse que sou uma criança e num quero fazer um filho em ninguém.
-- E você é meu homenzinho mesmo! E só meu! E eu queria mesmo um filho. Só ainda não tinha ficado grávida por causa dos meus pais. Eles não iam gostar. Mas já que estou longe deles e talvez nunca mais a gente saia daqui, resolvi ter. Mas agora que você fez e estou grávida, estou com medo. E se eu tiver algum problema na minha gravidez? Não tem um médico aqui pra me examinar. E quando eu for parir? Quem vai me ajudar? Eu sei que dói muito parir uma criança. E se eu não aguentar de dor?
-- Mas dói? Por quê?
-- Moleque burro! Olha aqui! -- Luciana sentou na areia e abriu as pernas, levou a mão na vulva e afastou os grandes lábios. -- Tá vendo isso aqui? Olha o tamanho dela. Agora imagina uma criança saindo por aqui.
-- Mas é por ai que sai?
De fato eu não sabia patavinas sobre como os bebês vinham ao mundo. Meus pais jamais tocaram nesse assunto na minha frente. Na escola também não se falava nisso, ainda mais que eu estudava num colégio onde a maioria das famílias eram profundamente religiosas. Qualquer coisa relacionada a sexualidade e a reprodução era banida dos livros daquela instituição. De forma que a maioria de nós que estudavam ali éramos completamente ignorantes nesse assunto.
-- Por onde você acha que é? -- volveu ela bastante irritada.
-- Sei lá. Achei que...
-- Que a gente vomita. Ou que a gente agacha e simplesmente caga o filho, que nem se fosse bosta? Como você pode ser tão idiota? Eu não acredito que fui me encantar com um traste desses-- interrompeu-me ela, impedindo-me de dar a minha explicação.
-- Não, né. Achei que o médico abria a barriga e tirava o bebê de lá.
-- Também pode ser. Isso chama cesariana. Mas só algumas mulheres fazem. A maioria faz que nem os outros animais. Pare -- Ou seja: o bebê sai por aqui, pela boceta mesmo!
-- E como ele consegue passar aí?
Eu já tinha visto recém-nascidos mais de uma vez, mas não imediatamente ao nascimento. O filho da vizinha, eu o vi três dias depois e meu primo Fabrício dois dias depois. E isso me levava a concluir que, ao virem ao mundo, eram exatamente daquele tamanho.
-- Ela fica maior e o buraco dela também aumenta. Mas mesmo assim, ainda é pouco. Por isso dói muito. E quando o buraco não fica muito grande, o médico de abrir a barriga e tirar.
Eu não sabia se Luciana estava realmente falando a verdade. E na falta de uma explicação melhor, acabei aceitando as suas. Apesar de não conseguir aceitar o fato de tê-la engravidado. Não me entrava na cabeça que aquele fluxo branco que escapava de mim durante o orgasmo fosse a semente de uma nova vida.
Súbito, lembrei da fogueira e de que dali a pouco estaria na vez da minha prima tomar conta dela. Assim, sugeri um banho de mar e então retornarmos para cabana.
-- Vamos. Aposto como agora vou conseguir dormir que nem uma pedra – disse Luciana.
A água estava deliciosa. Se não fosse o medo da fogueira apagar e de Ana Paula acordar, eu teria permanecido por mais tempo.
-- Amanhã, eu vou contar para as meninas – disse ela, quando saímos da água.
-- Contar o quê?
-- Que estou grávida. Que vou ter um filho teu.
-- Mas ocê num pode fazer isso – exclamei, quase em desespero. Se ela contasse isso, os últimos fios de esperança que eu nutria em conquistar o coração de Marcela despedaçar-se-iam. Não, ela não poderia fazer isso. E não importasse o preço a pagar, eu teria de impedir.
-- Por que não? Por causa da sua queridinha? -- indagou ela, já se irritando.
-- Não. Num é não. É porque você num tem certeza se tá grávida – menti.
-- Claro que tenho. Tenho toda a certeza do mundo.
Por alguns instantes cheguei a titubear, a ficar sem saber o que fazer. Lembro-me inclusive de pensar: “Se ela contar, eu mato ela. Ela que faz isso pra ela ver”.
-- Mas você num vai contar ainda – ordenei, parando diante dela, para que visse o quanto eu estava irritado com sua atitude. Aliás, achei que assim pudesse demovê-la.
-- Pára de falar “num”! Já te ensinei que é “não”! E vou sim. E ninguém vai me impedir. Muito menos você, seu pirralho!
Nisso, ela me deu um empurrou e eu cai de costas na areia. A fúria, uma fúria que eu procurava controlar durante nossas discussões, dominou-me. E se tornou ainda mais intensa quando ela passou por cima de mim, como se eu fosse um objeto descartado, e continuou em direção à cabana.
Levantei num salto, corri atrás dela e, cercando-a, dei-lhe uma bofetada com toda a força. Aliás, minha vontade era de fechar a mão de dar-lhe um murro, mas fiquei com medo de machucar-lhe e depois ter de explicar para Marcela e minha prima o porquê daquela agressão. O peso da minha mão fê-la virar o rosto. Luciana por sua vez levou-a aonde eu acertara e, virando o rosto em minha direção, esbravejou:
-- Filho de uma puta desgraçado! Quem você pensa que é? Ah, mas você vai me pagar muito caro! Pode ter certeza! E nunca mais faça isso, seu moleque idiota! Porque se você fizer em não pensarei duas vezes em te matar. Garro no teu pescoço e te enforco até a morte.
Nisso, ela levantou a perna para me dar um chute na genitália, mas eu estava preparado. Sabia que ela poderia fazer isso. Sempre fazia isso quando queria me agredir. Assim, antes que pudesse me acertar, levei a mão e agarrei-lhe a perna. Ela se desequilibrou e caiu sentada na areia.
-- Vai me desafiar? Vai?
-- Vou sim, sua puta! Sua vadia! Pensa que eu num sô homem o bastante pra acabar contigo também? Você é uma só. Nós somos três. Ou você acha que alguma delas vai ficar do seu ladinho? Se você ainda num percebeu, minha prima te odeia. E a Marcela também num gosta de você. Aposto como se ela pudesse, ela te mandava pros infernos! -- retruquei, pronunciando de propósito todos os nãos erradamente, apenas para contrariá-la ainda mais.
Surpresa com a minha reação, Luciana ficou sem saber o que dizer por alguns instantes. Apenas encarou-me com espanto. Talvez por ter me dominado completamente desde a chegada àquela ilha, não esperava minha rebelião justamente naquele momento. E o fato de ter-lhe dito que seria ela contra Ana Paula, Marcela e eu deve ter mexido com o seu brio. Acredito que, pela primeira vez, Luciana tenha se sentido em desvantagem.
Isso inclusive explica sua reação. Quando contrariada, partia para o ataque, procurando impor sua força e sua liderança, como faz toda pessoa dominadora, que procura manter o poder pelo terror. No entanto, dessa vez, além da demora em dizer algo, quando abriu a boca, foi para dizer:
-- Também não precisa ficar todo agressivo desse jeito! Não vamos brigar por besteira – Apoiou-se no chão e levantou-se, passando a mão nas nádegas para tirar a areia. -- Se você não quer que eu conto, meu homenzinho – ela deu dois passos e, chegando em mim, abraçou-me, -- eu não conto então. Mas minha barriga vai crescer e elas vão saber de qualquer jeito -- acrescentou, acariciando-me na face – E antes disso, elas vão ver que eu não estou ficando menstruada e vão querer saber o porque. Aí vou ter que contar, seu bobinho.
Ao proferir estas palavras, seus lábios procuraram os meus. Eu, no entanto, arrependido, com a consciência pesada por ter-lhe batido, já que considerava isso um pecado, aceitei seu beijo, abraçando-a como teria feito um rapaz arrebatado de paixão.
-- Desculpa – disse ela em seguida. -- Sei que você só ficou assim porque não deixei você gozar em mim. Não foi?
Poderia ter negado, mas as pessoas tímidas e fracas se agarram muito facilmente ao oportunismo, já que este é uma forma de compensar suas limitações. Por que negar? Se isso só criaria mais desavenças e lhe despertaria a fúria? Já que a minha negativa era o mesmo que confessar que eu não queria que ela contasse por causa da Marcela. Assim, assenti.
-- Então vem cá. Eu deixo você por em mim e gozar – disse ela preparando-se para deitar na areia fofa.
-- Não, não quero mais! Não estou mais com vontade – falei.
De fato eu não estava mais excitado, embora isso não queria dizer que realmente não estivesse com vontade. Até porque um desejo -- principalmente o desejo da volúpia -- não satisfeito continua a nos afetar até que seja satisfeito. Portanto não havia dúvida quanto aos efeitos daquele gozo represado: meus instintos ficaram mais aguçados e qualquer coisinha, qualquer gesto mais sensual por parte de uma das meninas seria suficiente para me trazer pensamentos eróticos e me provocar uma excitação. Aliás, assim que voltasse á cabana e ficasse as sós, a imagem da minha prima e Marcela nuas certamente me levaria às fantasias com ambas.
-- Então amanhã eu deixo – asseverou, procurando ser gentil. Aliás, quando se dava conta de ter ido longe demais, Luciana procurava compensar o erro com os mais ternos agrados. -- A gente sai pra caçar e vai até o outro lado e eu deixo você meter comigo, tá bom?
Respondi afirmativamente com meneios de cabeça.
-- E deixo você fazer do jeito que você quiser. Se você quiser fazer por trás, igual o que a gente fez outro dia, ou enfiar no meu cu, eu também deixo. Eu até gosto. É diferente. E eu sei que vocês homens gostam de fazer por trás. Não sei porque, mas gostam. Você quer fazer?
Mais uma vez não querendo contrariá-la, acabei assentindo.
-- Então amanhã vou dar o meu cu pra você. -- Nisso, ela abaixou a mão e pegou no meu falo. -- Aposto como ele adora isso – acrescentou, acariciando.
Num gesto rápido, tirei-lhe a mão do meu falo e acrescentei:
-- Vamos voltar. A fogueira deve tá quase apagando.
Foi a desculpa que encontrei para pôr termo àquelas carícias, as quais inevitavelmente me excitariam em questão de segundos.
Antes de retornar, tornamos a entrar no mar para tirar a areia. Foi um rápido mergulho. Ainda cheguei a sair dá água na frente de Luciana, mas ela correu ao meu encontro, prostrou ao meu lado, e pegou na minha mão. Retornamos de mãos dadas, como dois pombinhos apaixonados.
Em nenhum momento imaginei que Ana Paula ou Marcela pudesse estar acordada. Eu deveria ter previsto isso. Ainda mais por já estar na hora da minha prima assumir o meu posto. E como estávamos acostumado a acordar no mesmo horário, mais de uma vez tanto ela quanto eu chegou a despertar sem que o outro precisasse chamar.
Quando, já quase diante da porta, minha prima surgiu de repente, foi como se eu estivesse diante de um fantasma ou cara a cara com aquele monstro que eu acreditava existir naquela mata atrás de nós. Eu simplesmente gelei e não consegui dar mais um passo. Minha mão, agarrada à de Luciana, largou-a tão rápido como se tivesse tocado num fio elétrico. Mas já era tarde. Ele vira se aproximar como dois apaixonados.
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