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Luciana retornou algum tempo depois. E quando adentrou à cabana, agiu como se nada acontecera. Pelo contrário: demonstrava felicidade, como se não magoara ninguém, como se o fato de estarmos presos àquela ilha, longe de nossos entes queridos há semanas não fizesse a menor diferença. Olhou para todos e, na maior naturalidade, perguntou:
-- O que foi? Que caras são essas? Morreu alguém?
Numa reação rápida, Marcela se levantou, foi na direção dela, apontando-lhe o dedo na cara e dizendo:
-- Você é uma vagabunda.
Luciana deu passos para trás, talvez surpresa com a reação da outra, já que Marcela sempre fora a mais equilibrada e a que nunca levantara a voz contra um de nós, e em tom desafiador respondeu:
-- Vagabunda eu? Por quê? Só porque transei com o seu queridinho aí? -- olhou para mim rapidamente, porém com indiferença, como se eu fosse qualquer um, como se aquelas revelações feitas pouco antes não machucara a mim e a própria Marcela. -- E transei mesmo. E muitas vezes, se você quer saber. Tô até carregando um filho dele aqui – levou a mão ao ventre e a movimentou em forma de círculo. – Ele é um idiota dum moleque, mas, pelo menos, pra isso ele serviu.
Marcela, que jazia diante Luciana com as mãos na cintura e os olhos fixos nos dela, em tom desafiador, levantou as mãos, deu um passo e ameaçou dar-lhe um bofetão, mas Ana Paula, que jazia ao seu lado, segurou-lhe o braço.
-- Num faz isso! Ela num merece. É uma vadia sem vergonha que, só porque é mais velha do que a gente, pensa que pode fazê o que quiser com as pessoas. Ela só sabe menti e arrumá briga. É um monstro. Num tem coração e nem sentimentos.
-- Eu não fiz nada – negou ela, dando mais um passo para trás.
Marcela voltou a chorar. Embora não estivesse diante dela, pude ver suas lágrimas. E ao vê-las escorrer-lhe pelo rosto, senti um aperto no coração e uma vontade indizível de tomá-la nos braços e, beijando-a na face e nos lábios, dizer-lhe para não chorar porque eu a amava e estava ali para protegê-la. Mas a coragem me faltou; aliás, como me faltava todas as vezes em que eu me encontrava diante de uma situação na qual exigia um ato de coragem e grandeza. Ainda sim, aproximei definitivamente das três, parando ao lado de Marcela e diante de Luciana. Fitando-a, senti o ódio me dominando, me dando aquela coragem que me faltava. O sangue envenenado passou a arder em minhas veias. Minha vontade foi de pegar o machado e partir-lhe a cabeça ao meio, como tencionara pouco antes. Ainda mais porque ela parecia se deleitar com aquela confusão toda, como se isso fosse justamente o seu propósito.
-- Fez sim – desmenti. -- Você me obrigou a se deitar contigo e fazer aquelas coisas.
-- Eu? Tá maluco, moleque!? Como eu poderia te obrigar? -- mentiu, demonstrando desdém por nós três. -- Se fosse o contrário ainda ia. Você me beijou, chupou os meus peitos – Luciana levou as mãos aos seios e os apertou – e me amou porque quis, porque estava com vontade – continuou, olhando agora para mim. -- E eu vi o quanto você sentia prazer. Não é verdade?
Por alguns instantes eu fiquei sem saber o que dizer. Lembro-me inclusive de ser tomado por uma indecisão e uma confusão mental, como se o meu cérebro sofresse um colapso ou uma confusão mental. Ainda sim consegui responder:
– Gostei na hora que tava fazendo porque eu não conseguia me controlar. Mas eu não queria fazer. Eu te falava que num queria. Mas você a ameaçava. Você me seduziu. E depois eu ficava arrependido e dizia que não ia fazer mais.
-- Mas fazia, não fazia? -- Insistiu Luciana, tentando convencer as duas meninas de que eu me deitara com ela por livre e espontânea vontade, o que destruiria a acusação de que me seduzira e me obrigara a fazer sexo consigo.
-- Eu fazia porque você me obrigava – tornei a insistir. Por mais que ela tentasse me contradizer e virar o jogo a seu favor, eu procurava combater seus argumentos, embora ela fosse mais esperta do que eu. -- Eu dizia que não queria, mas você dizia que se eu não fizesse ia sobrar para minha prima e você Marcela – falei, olhando para Marcela, a qual continuava a derramar lágimas.
-- Mentira sua. Eu nunca te ameacei. Agora te seduzir, não vou negar. Também com um corpão desse, que homem ia resistir – disse Luciana, passando as mãos pelo dorso, começando pelos seios e descendo até as coxas. -- Além do mais, eu só fui mais esperta que essa trouxa aí. – Voltou a olhar para Marcela. -- Bobeou, dançou, querida – acrescentou, rindo em seguida.
-- Ameaçou sim, sua mentirosa – retruquei.
-- E ameaçô mesmo! -- interveio Ana Paula. -- Ele me contou tudo. Todas as coisas que ocê fez e disse pra ele. Num adianta negá.
-- Eu fiz ameaças? Que ameaças?
-- Você disse que se eu não fizesse o que você queria, você ia machucar a Ana Paula e a Marcela. E também disse que ia acabar com a Marcela se eu beijasse ela ou me deitasse com ela.
Súbito, o rosto de Luciana perdeu aquele tom de galhofa e adquiriu uma cor avermelhada, como muitas vezes ocorre com aquele que é surpreendido numa mentira; os olhos, mudando de expressão, arregalaram-se. Então pude ver a raiva cobrir-lhe a face, feito um véu. E ao me fitar, ela me encarou como um animal enraivecido, prestes a partir para o ataque.
-- Num adianta ocê negar. Eu sei de tudo. Tudo que ocê fez. Mas agora acabou – insistiu minha prima, a qual estava decidida a se vingar, desmascarando-a. -- Marcela também já sabe de tudo e ocê num vai mais chantageá o Sílvio.
-- Tá pensando que eu tenho medo de você sua pirralha? -- ameaçou, agarrando Ana Paula pelo cabelo e puxando-o.
Intervi. Agarrei-lhe os braços e os apertei, fazendo com que ela soltasse a outra. Então dei-lhe um empurrão. Luciana se desequilibrou e caiu sentada ao lado da fogueira. Tinha de fazer isso. Era a única forma de evitar que as duas se atracassem, como já tinham feito mais de uma vez. E no estado de exaltação em que estavam, uma acabaria por machucar a outra severamente, o que tornaria a reconciliação impossível, se é que ainda havia uma possibilidade disso acontecer no futuro.
-- Se você encostar um dedo na minha prima eu te mato sua cadela! -- ameacei-a, curvando sobre ela e levando-lhe o dedo na cara, demonstrando uma coragem que nem eu sabia possuir. A raiva só aumentava dentro de mim e minha vontade foi de matá-la. Naquele momento o peso de um fio de cabelo era suficiente para pender o prato da balança que mantinha o equilíbrio entre a razão e a furor em mim.
Apesar da minha expressão de raiva e do tom ameaçador, Luciana não se convenceu. Talvez, depois de me usar e fazer comigo o que bem entendera, achou que eu não seria capaz de levar adiante as minhas palavras. Talvez ela achasse me conhecer mais do eu mesmo.
-- Me matar? Você? Você não tem coragem. Você é um frouxo! Um inútil! Um idiota dum garotinho, filhinho da mamãe, que tem medo até da própria sombra.
Foi o suficiente para eu perder o controle e avançar nela, agarrá-la pelo pescoço e começar a apertá-lo enquanto ela tentava se desvincilhar. Eu só desejava uma coisa: matá-la.
Não sei onde eu aprendi como esganar uma pessoa. Só sei que minha mão fechou-lhe no pescoço com tanta força que nada seria capaz de me tirar dali. Ainda mais que Ana Paula, vendo-me enforcar a outra, apressou-se em dizer:
-- Isso! Aperta mais! Enforca essa cadela. Acaba com a raça dela! Assim ela num arruma mais confusão com a gente. Vai ser até melhor sem ela aqui. A gente vai ter um pouco mais de sossego e paz.
-- Sílvio! -- gritou Marcela. -- Larga ela agora. Se você não largar, nunca mais encosta em mim.
Minhas mãos afrouxaram imediatamente. Em seguida, me levantei de deixei Luciana tossindo e levando a mão ao pescoço, no qual ficara as marcas de meus dedos.
-- Sorte sua, vadia –falei, deixando escapar toda raiva que me dominava. -- Se num fosse pela Marcela, eu só ia te soltá quando ocê estivesse morta. -- Descontrolado como eu estava, as palavras me saíam cortada, como eu costumava falar quando era criança.
Dei dois passos para trás. Luciana por sua vez virou para o lado, apoiou as mãos no chão e se levantou. Mais uma vez olhou-me nos olhos. Agora, no entanto, não havia nem aquele ar de zombaria e menos ainda aquela expressão de ódio; havia sim um olhar derrotado, cheio de terror, com uma expressão de quem experimenta um medo terrível ao deparar com a morte.
-- Eu te odeio, garota! -- Marcela levou ao mão o rosto e enxugou as lágrimas. Eu ainda podia vê-las correndo. -- Desde que a gente chegou aqui você só arruma briga, só fica pondo uns contra os outros. A gente está sozinho aqui nessa ilha e precisamos mais do que tudo uns dos outros. E o que você faz? Tenta nos separar, semeando a discórdia. Será que você não ver que precisamos ficar unidos? Que essa é a única forma da gente sobreviver, até aparecer alguém? Nunca mais vou ser sua amiga. Pode ter certeza disso! Só que a gente precisa continuar juntos. Por isso não podemos brigar, ficar ameaçando uns aos outros. Não quero que ninguém goste de ninguém. A gente só precisa suportar um ao outro e pronto. Isso já é suficiente. E depois que a gente sair daqui, porque eu tenho certeza que a gente vai sair, cada um vai para o seu lado, viver sua vida e ponto final.
-- Você tem razão – concordei. Aliás, mesmo que Marcela não estivesse certa, eu teria corroborado suas palavras. Não me restava outra saída a não ser tentar agradá-la, mostrar que sempre estivera ao seu lado.
Embora já estivéssemos naquela ilha há várias semanas, o desejo de voltar para casa, para junto de nossos pais mantinha-se tão forte quanto no primeiro dia. O mesmo parecia ocorrer com Marcela e Ana Paula. Apenas Luciana não compartilhava desse desejo. Ela tinha suas razões, as quais eu não compreendia.
-- Mas o que a gente vai fazê com ela? -- quis saber Ana Paula.
-- Sei lá! -- exclamei.
-- Nada – disse Marcela.
Luciana apenas nos olhava, como que perdida, sem saber o que fazer. Talvez porque tudo acontecia ao contrário do que ela previra.
-- Mas depois do que ela fez com o Sílvio e com a gente, num vai acontecê nada com ela? -- gritou, bastante exaltada.
Ana Paula estava indignada e inconformada. Via-se que ela esperava algum tipo de punição para a outra. Mas nem eu e nem Marcela estávamos dispostos a fazer algum tipo de condenação e muito menos aplicar-lhe algum tipo de castigo. Embora a raiva não passara de todo, as palavras de Marcela apaziguaram meu coração, aumentando a minha admiração e ternura por ela. As razões de Marcela para não punir Luciana eu desconhecia; as minhas, no entanto, era porque eu não fazia a menor ideia de que tipo de castigo lhe aplicar, já que Marcela me proibira de usar de violência, o único meio que eu conhecia de levá-la a pagar pelo que fizera.
-- Por enquanto não – respondeu Marcela com firmeza e de forma decidida, como sempre fazia. -- Vamos preparar estes peixes e comer. Acho que todos nós estamos com fome. Depois a gente senta com mais calma e decide o que fazer daqui pra frente. Do jeito que está não pode continuar. Porque senão vamos matar uns aos outros.
Houve um breve silêncio, onde se tinha a impressão de que cada um de nós fazia suas ponderações. Não posso afirmar que as três refletiam acerca daquela sugestão, mas eu pensava numa solução, numa forma de acabar as tentativas de Luciana em me usar e em por um fim aquela desavença entre ela, minha prima e Marcela. Embora já não desejasse mais partir a cabeça de Luciana – aliás, isso já não afligia mais – a mágoa não desaparecera. Eu dizia a mim mesmo que não a perdoaria e nunca mais me deitaria com ela. “agora ela num tem mais como me obrigar. E se eu ficar com vontade, não vô fazer. Faço com minha prima. Com ela é até mais gostoso. Só os peitos dela. Muito pequeno. Os da Luciana é maior, mais gostoso de apertar, chupar os bicos”, lembro-me de pensar.
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