ÍNDICE
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Quando retornamos, Marcela e Luciana ainda não voltara. Olhei na direção do mar e não as encontrei. “Onde elas foram? Será que foram atrás da gente? Ou se enfiaram no mato, pra buscar alguma coisa? Nunca foram amigas. Só espero que não briguem”, pensei.
-- Não estou vendo elas. Será que saíram por aí? -- perguntei.
-- Num sei. Vai ver que sim -- respondeu Ana Paula, ainda contrafeita. -- Eu que vô saber?
-- Estranho elas não ter voltado ainda – deixei escapar.
Ana Paula não disse nada. Não estava a fim de conversa. Via-se no tom das palavras. Demonstrava estar bastante magoada comigo.
Virei na direção dela e ela estava sentando. E ao sentar, abraçou os joelhos e abaixou a cabeça, apoiando-a. Sua alma estava ferida, profundamente machucada. E essa constatação me fez sentir o peso da vergonha, do arrependimento. Baixei a cabeça e desviei os olhos para a fogueira por uns instantes.
Volteia a fitá-la discretamente. Pensei que ela fosse começar a chorar. Mas não; apenas ficou em silêncio, com seus próprios pensamentos. Ao vê-la assim, senti-me miserável e o arrependido me pesou mais do que aquela pedra que Sísifo era obrigado a arrastar. Não deveria sob hipótese alguma ter agido daquela forma, com violência e no mais profundo egoismo, mesmo sabendo que, no fundo, ela quisesse experimentar o sexo anal. Mas eu deveria ter agido com mais delicadeza e parado quando ela disse que estava machucando. E não fiz. Não era porque Luciana não sentiu dor que ela não sentiria. Por experiência própria eu sabia que era desconfortável e podia ser dolorido. “Idiota! Você estragou tudo! Num era pra fazer assim!”, pensei, “E nem era para ameaçar daquela forma. Não precisava. Fiz que nem a Luciana faz comigo. Agir igual ela.”
O arrependimento foi tanto que eu quase não pude conter as lágrimas. Agachei ao lado dela, levei a mão em seu braço e lhe disse:
-- Me perdoa, prima! Eu sei que errei! Tô muito arrependido.
Ela levantou a cabeça e seus olhinhos tristes e vazios encontraram os meus. Ela me olhou por alguns instantes e as lágrimas foram surgindo. Foi a primeira vez que a vira assim desde aquela difícil conversa após a nossa chegada àquela ilha, quando se chegou à conclusão de que seu pai estava morto.
-- Ocê me maguou. Eu num esperava isso d’ocê. Eu queria fazer mas não assim. Doeu. -- As palavras tinham dificuldade em sair.
-- Eu sei. Me desculpa. Não vou fazer mais – falei, abraçando-a. -- Não vou te bater e nem te machucar. Falei aquilo da boca pra fora, sem pensar. Mas não conta nada pra Marcela, não. Num quero que ela fique com raiva de mim – pedi carinhosamente, dando-lhe beijos na face. -- Eu te adoro. Você é minha prima preferida.
-- Eu num vô contá. Só falei aquilo porque tava com raiva.
-- Eu vou sempre te proteger. Imagine se vou deixar alguém te machucar, menos ainda a Luciana. Nunca que ficaria alguma coisa contra você.
Finalmente Ana Paula deu um sorriso e enxugou as lágrimas. Eu mesmo fiz questão de levar lhe a mão ao rosto e terminar de enxugá-las. Então dei-lhe um rápido beijo.
-- Já que elas não estão aqui, vamos na água? -- perguntei.
Ela concordou.
Algum tempo depois, ouvimos Marcela e Luciana retornar. Aparentemente, vinham do outro lado da ilha. Luciana trazia na mão um objeto, o qual não pude identificar.
-- Olha lá, elas! -- falei.
Gritei e elas nos acenaram.
Saímos da água e formos ao encontro delas. Estavam na faixa de areia a nossa espera.
-- Olha o que achei, no meio de duas pedras – disse Luciana, entendendo-me uma espécie de conha de alumínio. -- Não sei como a gente ainda não tinha achado ela. Já passamos por aquele lugar não sei quantas vezes.
Estava quebrada, mas podia ter alguma serventia. Para quem não tem nada, qualquer pedaço de utensílio é de grande utilidade.
-- Será como isso chegou aqui? -- perguntei, após examiná-la melhor.
-- É de alumínio. E alumínio não pesa tanto quanto outros metais – explicou Marcela. -- Talvez tenha vindo de um barco que, passando nas proximidades, tenha trazido. As ondas podem ter jogado ela ali, num dia de maré alta. Ou alguém que esteve por aqui a jogou fora, sei lá.
Não deixava de ser uma explicação, embora pouco provável. Poderiam existir outras, mas se havia não nos ocorreu. Talvez eu tivesse cogitado outra coisa se Marcela não tivesse perguntado pelos peixes.
-- Pescaram alguma coisa?
-- Claro. Tá lá pra vocês limpar – falei. – Minha parte eu já fiz.
Voltamos para casa e as meninas foram prepará-los. Enquanto isso, fui buscar mais lenha para aumentar o fogo da fogueira e assim assá-los mais rápido. Embora o machado não fosse dos melhores, pelo menos facilitava as coisas na hora de cortar um galho mais grosso. Por isso não demorei. Aliás, odiava entrar naquela mata, ainda mais sozinho. Por mais que eu tentasse me convencer de que não havia monstro algum ali, o medo não me deixava. Qualquer som, por menor que fosse, era o bastante para me apavorar e quase me fazer sair em disparada, deixando tudo para trás como se de fato estivesse sendo atacado.
Quando retornei os peixes já estavam limpos e Luciana estava agachada diante da fogueira, ajeitando-os sobre as brasas.
-- Vamos ter um almoço delicioso – deixou escapar.
-- Mais tarde, se não chover, vou atrás da janta. Minha preocupação é que o céu está ficando todo preto. Nunca vi ele ficar assim. Nem naquele dia que choveu até num poder mais – falei.
-- Pelo jeito vai chover muito – disse Marcela, olhando as nuvens através da porta. -- Ainda bem que reforçamos a cobertura da nossa casa. Senão ela não ia aguentar.
-- É verdade! Mas acho que ainda precisa de uma boa melhora. A gente podia ampliar ela, construir uma cozinha e mais quartos – sugeri.
-- Quartos pra quê? Para você se deitar com a gente? Ora, por que não faz isso na frente das outras. Qual o problema – disse ela, virando o espeto de peixes no fogo, para que não queimassem demais de um dos lados. -- O que tem para esconder? Nada.
-- Não. Nem tava pensando nisso! Só achei que ia ficar mais confortável. Mas já que você tocou no assunto, precisamos resolver isso de uma vez por todas. Como a nossa situação vai ficar. A decisão é de vocês.
Ambas olharam uma para a outra.
-- Por mim já tá decidido – disse minha prima. -- Para num ter mais brigas, ocê se deita com nós três e pronto. Num é melhor assim, Marcela?
Houve um breve silêncio. Todos os olhares estavam sobre ela. Marcela porém, parecia não ter muita certeza, como se não achasse a melhor solução; aliás, parecia a procura de um meio de se esquivar da discussão, como fizera quando eu sugeri essa possibilidade no dia anterior. Talvez tenha aceitado o acordo contra a vontade.
-- Não sei. Isso não vai dar certo. Tem de ser muito bem planejado, ter regras. Mas a gente pode tentar, já que vocês querem. Pelo menos para tentar vivermos em harmonia até a gente sair daqui. Isso é o mais importante. Do jeito que está é que não pode ficar – acabou admitindo.
-- Ele não é homem para dar conta de nós três, mas se vocês acham que pode dar certo, não vou me opor. Mas isso não vai resolver nossas diferenças. Vai dar briga – disse Luciana.
-- Claro que dou conta. Sou muito homem pra isso! -- exclamei, sentindo-me ofendido na minha masculinidade.
-- E por que vai dá briga? -- quis saber Ana Paula.
-- Porque ele ama a Marcela, sua idiota. Olha só como ele se derrete por ela, que nem manteiga no calor. Ele só vai querer transar com ela. Nós duas vamos ficar a ver navios, chupando dedo. Isso sim. Quer dizer: a ver navios não, porque nem isso passa por aqui, nem fim de mundo esquecido por Deus.
-- Nada disso! Ele não vai poder privilegiar uma de nós – disse Marcela. -- Para evitar isso, é preciso de algumas regras.
-- Que regras? -- perguntei.
-- Como só transar de novo com uma depois de já ter transado com as outras. É um rodizio. Não pode ser quebrado.
-- E como ele vai fazer? Deitar com todas no mesmo dia? -- perguntou Roberta.
-- Se ele conseguir – respondeu Marcela. -- Você consegue? -- perguntou, dirigindo-se a mim.
Não respondi de imediato. Pensei por alguns instantes. Num primeiro momento achei que não teria problemas e quase respondi “sim”, mas a seguir, por experiência, achei que num dia ou noutro não seria capaz, então decidi não dar certeza.
-- Num sei. Só tentando pra ver.
Houve um breve silêncio.
Súbito Luciana perguntou se o peixe não já estaria pronto. Marcela pegou o espeto e os examinou.
-- Acho que já. Parecem bem assado. Principalmente esses menores.
Não voltaram ao fogo. Com a faca, foram retirados do espeto e postos sobre a placa de aço inoxidável.
Não esperamos muito para comê-los, pois a fome se tornou ainda mais insuportável ao vê-los ali, assados e tão apetitosos. Alias, minha boca salivava o tempo todo, como nos ocorre diante de um prato irresistivelmente delicioso.
A refeição durou cerca de dois ou três minutos, não mais do que isso. A fome foi contida, mas não abatida de todo. Por sorte já estávamos acostumados com ela, de forma que não nos afetou. O tempo fechara de vez e a chuva parecia inevitável. Seria questão de minutos.
-- Eu sei que não vai ser fácil, mas se vocês querem tentar, a gente tenta – disse Marcela. -- Só não concordo que seja feito na frente das outras.
-- Você tem vergonha de dar pra ele na nossa frente? -- quis saber Luciana
-- E se eu tiver?
-- Tudo bem. Eu não me importo. Já estamos nus e nem temos vergonha disso. Por que eu teria de transar com ele na frente de vocês? Ele não vai transar com vocês também? O que ele pode fazer com uma que a outra não saiba. Nada.
-- Eu também nun quero fazer – falei. -- Não ia conseguir.
-- Nem eu – afirmou minha prima.
-- Pois eu adoraria ver os priminhos transando.
-- Quando for feito, vai ser longe de todo mundo. Ninguém precisa ver, ficar assistindo – insistiu Marcela. -- Não é filme pornô. E eu nem gosto desse tipo de coisa.
-- Pois eu já assisti vários – disse Luciana. -- Meu primo tem video cassete. E ele tem umas fitas de filme pornográfico. Assisti alguns com ele. Até tentamos imitar algumas cenas – contou ela.
Não sei se era verdade. Ela já tinha me contado sobre o que fizera com alguns colegas de escola, mas ainda não havia me falado do primo. Isso para mim era novidade. Talvez ela estivesse inventando, embora fosse uma garota experiente quando se tratava de sexo. De mais a mais o fato de ter sido abusado pelo meu próprio primo me levou a acreditar que as primeiras experiências sexuais muitas vezes ocorrem entre primos.
-- E você transou com ele? -- quis saber Marcela.
-- Transei. A gente estava com vontade. Só nos dois deitados na cama dele assistindo aqueles filmes. Ele começava a passar a mão em mim, nos meus peitos; tirava o pau dele pra fora e passava nas minhas coxas. Eu também estava exitada e a gente transava. Foi ele inclusive quem tirou a minha virgindade. Qual o problema? Eu tinha até combinado de passar o fim de semana na casa dele quando resolvi cancelar para passear de barco. Antes tivesse ido.
-- E quantos anos o seu primo tem? -- perguntei.
-- Dezenove, por quê?
-- Só curiosidade – respondi, sentindo um que de inveja. Aliás, não pude evitar imaginá-la deitada com um rapaz mais velho que ela, possuindo. Senti-me em desvantagem. Isso explicava por que ela me chamava de idiota, de garoto frouxo e de não saber fazer as coisas. Ele sabia muito mais do que eu. Mas eu não podia fazer nada. Não tinha culpa de ser tão jovem e inexperiente. Por isso resolvi voltar ao assunto em discussão. -- Combinado então. Todas concordam?
-- E como a gente vai saber que não está sendo passada para trás. Ele pode aproveitar uma oportunidade e transar com uma de nós, quer dizer como você, Marcela, sem que as outras saibam – afirmou Luciana, demonstrando não confiar em ninguém.
Novo silêncio. Súbito Marcela disse que eu poderia estar as sós com uma delas se esta fosse com a qual estava na vez. Chegaram a concordar, mas eu questionei.
-- Isso não quer dizer que eu vou transar com ela, só por a gente ter ficado sozinho.
-- É verdade – afirmou Ana Paula. -- Então quer dizê que se eu quisé ir pescá com ele, mas num é a minha vez de transá com ele, eu num vô podê?
-- Não! -- exclamou Marcela. -- Para evitar brigas, acusações, não vai poder.
-- Poxa – deixou escapar.
-- Claro que sempre pode haver chance de alguém tentar levar vantagem, mas temos de ser todos honestos uns com os outros. Você principalmente, Sílvio. Se você for honesto e seguir as regras, não tem como uma de nós trapacear. Todas nós dependemos de você – explicou Marcela.
-- Mas eu não faria isso – exclamei. -- Por que eu ia querer enganar as outras. Para estragar tudo?
-- É verdade! Quem mais sairia perdendo seria você mesmo – disse Marcela.
-- Nisso eu tenho que concordar --- disse Luciana
Os primeiros pingos de chuva caíram. Saí correndo e apanhei as duas conhas de água salgada que estavam secando do lado de fora para produção de sal. A chuva aumentou rápido e em pouco tempo desabava um temporal. As gotas d’água faziam um barulho infernal ao atingir o teto. O medo tomou conta de Ana Paula e eu tive de abraçá-la, para que parasse de chorar (ainda estava muito sensível, provavelmente devido os acontecimentos de mais cedo). Por isso, a discussão ficou interrompida por um bom tempo. Não só minha prima, mas todos nós estávamos preocupados com as condições da cobertura da casa. Embora não fosse mais a cabana dos primeiros dias, ainda não era forte o suficiente para resistir a um temporal assim. Não imaginávamos que poderia cair um temporal daqueles.
O aguaceiro não chegou a durar, mas a chuva sim. E a conversa só foi retomada um bom tempo depois, quando a água já não caía com tanta intensidade e temor da casa não resistir já não ocupava nossas mentes.
-- E se alguma de nós não quiser transar com ele, quando for a vez. A gente pode não estar com vontade, pode estar naqueles dias – disse Luciana. -- Troca de lugar com outra?
Outro breve silêncio. Estávamos todos a refletir em busca de uma boa resposta.
-- Por mim pode ser – falou Ana Paula.
-- Eu não vejo muito problema nisso, mas não acho a melhor solução. Pode virar um meio de uma de nós tentar convencer a outra para tirar vantagem. Se os direitos vão ser iguais para todas, isso não pode ser feito dessa forma – explicou Marcela, agindo sempre como a cabeça pensante do grupo.
-- E como vai ser? Porque eu não vou dar pra ele se não tiver vontade – afirmou Luciana.
-- Mas ninguém precisa transar com o Sílvio se não tiver vontade, só porque é sua vez. Nesse caso, o melhor a fazer e passar a vez para a próxima de nós. Assim ninguém vai ser acusada de estar beneficiando a outra. Porque é isso que ia acontecer.
-- E se eu não tiver com vontade de transar com que está na vez? -- perguntei.
-- Você não tem escolha. Não pode trocar. Vai ter que fazer. Até porque vocês homens não tem esse negócio de não estar com vontade. Mesmo sem vontade, ele fica duro ficar rapidinho. É só a gente usar da sedução – tornou Marcela.
-- Também acho melhor assim. Sem privilégios – disse Luciana.
-- Também concordo – disse Ana Paula. -- Assim num tem briga.
Num primeiro momento não me dei conta, mas depois, refletindo acerca desse trato, percebi ter caído numa armadilha. Teria de seguir várias regras e minhas vontades foram ignoradas. Eu podia me beneficiar do fato de transar com elas, o que parecia maravilhoso, mas elas decidiriam quando seria e como seria feito; eu não poderia recusar e teria de fazê-lo mesmo se não estivesse disposto, o que aconteceria após passar a novidade dos primeiros dias. Eu seria usado como um instrumento, como uma forma de manter a harmonia entre aquelas três. Essa era a verdade.
-- E quando a gente vai começar? -- perguntei, já que eu era o mais interessado. Na realidade, pensava tão somente em Marcela, nos momentos de amor com ela. Por ela, eu estaria disposto a fazer qualquer coisa, suportar qualquer sacrifício.
-- Hoje – adiantou-se Luciana.
-- Mais Já – exclamou minha prima.
-- Amanhã seria melhor – falei.
-- Por que amanhã? -- indagou Luciana, olhando primeiro para mim e depois para Ana Paula. -- Por acaso os priminhos já andaram se deitando mais cedo, quando foram pescar?
-- Claro que não – antecipei, temendo que Ana Paula entrasse em contradição e confessasse. -- É que tá chovendo. Quem vai querer sair debaixo de toda essa chuva pra transar. Ela não está com cara de que vai parar tão cedo. E precisamos arrumar alguma coisa pra comer. Só se for quando já tiver anoitecido, aí pode ser.
Isso parece tê-la convencido.
-- E quem vai ser a primeira?
-- Isso a gente vai ter que tirar na sorte – disse Marcela. -- Ou você prefere escolher, Sílvio?
Por um breve instante, minha face afogueou-se. Contudo, cheguei a pensar em escolhê-la, mas temi que Luciana pudesse ver nisso um favorecimento (o que seria verdadeiro) e as brigas começassem. Cheguei também a cogitar em apontar Luciana, mas não era ela quem eu desejava que fosse a primeira. Assim, optei pelo sorteio. Talvez a sorte estivesse do meu lado e Marcela fosse a premiada.
-- O sorteio é melhor, respondi. -- Ninguém vai poder me acusar de ter deixado fulano ou sicrano por último.
-- Vamos tirar no dois ou um. Depois no par ou ímpar. Quem sair primeiro, é a primeira, quem ficar por último será a última – explicou Marcela.
-- Vamos então. Quero ver quem vai ser a sortuda – disse Luciana, empolgada. Ela sabia que depois das revelações do dia anterior e da proibição de Marcela esta era a única oportunidade de voltar a fazer sexo comigo.
Ela ficou de pé e Marcela fez o mesmo. Por último Ana Paula. Então as três ficaram em círculo.
-- Sílvio, você fica de olho para que nenhuma de nós tente trapacear – pediu Marcela. Ela não disse, mas aquelas palavras se referiam à Luciana; não creio que ela achava que minha prima fosse trapacear.
Concordei e levantei.
A primeira rodada aconteceu. Luciana e Marcela puseram um dedo e Ana Paula dois. Minha prima foi a primeira.
Confesso ter ficado desapontado e um tanto embaraçado. Desapontado por Marcela não ter saído e embaraçado pelo que acontecera mais cedo entre mim e minha prima. Como ela reagiria quando eu saísse com ela para iniciar aquele rodízio? Iríamos fingir que tínhamos feito ou faríamos de fato? Ela me deixaria possuí-la depois do que fizera com ela naquela manhã? Isso me ocorreu naqueles poucos instantes. A solução não veio porém porque Luciana não conteve a língua.
-- É pirralha, vai perder o cabacinho, hein. Isso se já não perdeu e só tá enganando a gente.
-- Já te disse! Num sô puta que nem ocê – esbravejou Ana Paula, numa reação um tanto despropositada.
-- Parem com essas ofensas – reprendeu Marcela. -- O que cada um faz com seu corpo não diz respeito aos outros. Isso não é problema seu. Fizemos um acordo, pois que cada um cumpra a sua parte e ponto final.
-- Eu não quis ofendê-la. Mas que vai ser engraçado vai. Queria estar lá para ver.
-- Mas não vai. Eles vão fazer bem longe dos nossos olhos. É mais decente assim – falou Marcela. -- E vamos parar de cassar assunto e vamos tirar logo esse par ou ímpar. Vamos acabar com isso de uma vez.
-- Quem ganhar vai ser depois de mim – disse Ana Paula.
-- Eu quero par – disse Luciana.
-- Eu fico com o ímpar – acrescentou Marcela.
Ambas mostraram a mão fechada. Deu zero.
-- Ganhei – afirmou Luciana.
-- Nada disso – discordou Marcela. -- Zero não é nem par nem ímpar. Zero é nulo, não tem valor. Portanto não vale. Tem que ser, no mínimo um.
-- É verdade! Zero não é nada. Não é nem um nem outro – falei. Embora não tivesse certeza, confiei em Marcela. Aliás, na esperança de que ela fosse a próxima.
-- Então vamos tirar essa porra de novo. Só quero ver qual vai ser a desculpa dessa vez.
Marcela perguntou a Luciana se ela queria mudar a escolha, mas ela recusou.
-- Vai dar par de novo – disse ela.
E deu.
-- Lamento. Mas você só vai chupar o pirulito depois de eu ter chupado – disse Luciana em tom provocativo e com um sorriso no rosto. -- E só vou deixar o palito pra você.
Marcela porém não deixou por menos.
-- E você só depois da Ana Paula ter chupado, sua boba.
-- Aposto como ela nem vai conseguir. Na hora que ela sentir aquele pauzinho duro tocar na xaninha dela, vai se assustar, ficar com medo e não vai deixar ele enfiar. Lamento, mas ele vai ficar ali, chupando dedo (“Ela que pensa. Já enfiei e ela gostou. Ocê num sabe de nada, idiota”, pensei). Vai ter que vir até mim para eu apagar o fogo dele. Espere só pra ver (“Pois é mais gostoso fazer com ela do que contigo, sua puta!”, tornei a pensar). E pode ter certeza que vou saber dar um jeito bem dado nele, como nenhuma de vocês seria capaz.
Temi que Ana Paula dissesse alguma coisa que nos comprometesse. Embora não fizesse muita diferença agora, ainda sim não queria que Marcela e Luciana soubessem que eu transara com minha prima. Por sorte ela não disse nada. Ignorou a outra.
-- Pelo menos agora não vamos ter mais brigas por causa do Sílvio – disse Marcela.
-- É. Mas não estou preocupado com isso. Tô com essa chuva que num para. O que a gente vai comer mais tarde. Não dá pra saber se já é tarde, se já vai anoitecer – falei.
-- Não. Ainda é cedo. Está meio escuro porque o tempo está fechado e chovendo. E se a chuva não parar a gente sai assim mesmo para buscar alguma coisa. Você não consegue caçar, se a chuva der uma diminuída?
-- Acho que sim, Marcela.
-- Então vamos esperar. Eu não sei vocês, mas vou tirar um cochilo. Alguém fica tomando conta da fogueira.
Marcela deitou numa das camas. Ana Paula aproveitou e fez o mesmo, na cama onde estava sentada. Ficaram eu e Luciana. Olhei para ela, ela olhou para mim, mas não disse nada. Parecia não saber o que dizer. Era como se um esperasse que o outro dissesse alguma coisa.
-- Se você quiser, pode ir deitar. Fico aqui – falei. -- Não estou com sono.
-- Também não estou, mas já que não tem nada pra fazer nessa maldita ilha, vou aceitar o conselho.
Ela se afastou, saindo do meu ângulo de visão.
Agachei diante da fogueira e fiquei vendo a madeira queimar lentamente. Os pensamentos logo alcançaram Marcela; aliás, como não poderia deixar de ser. “Agora ela não pode recusar. A gente vai se amar. Vai ser delicioso, mais do que foi com a Luciana e minha prima. Vou gostar de fazer com elas também. Mais com minha prima. Luciana sabe um monte de coisa; pelo menos isso. Pode me ensinar, para eu fazer com a Marcela. Aí faço com ela e com Ana Paula também. Tô até começando a gostar da ideia de não sair daqui por enquanto. Quem sabe ficar uns meses aqui. Ou pra vida toda. Não isso não. Ainda quero sair, ver meus pais. Tô com saudade de casa. Mas não ir embora agora. Só daqui um tempo”, pensei.
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