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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 81 -- 15/05/2018 - 10:12 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ADEUS À INOCÊNCIA - CAP. 81

ÍNDICE
Capítulo(01) Capítulo(02) Capítulo(03) Capítulo(04) Capítulo(05) Capítulo(06) Capítulo(07) Capítulo(08) Capítulo(09) Capítulo(10) Capítulo(11) Capítulo(12) Capítulo(13) Capítulo(14) Capítulo(15) Capítulo(16) Capítulo(17) Capítulo(18) Capítulo(19) Capítulo(20) Capítulo(21) Capítulo(22) Capítulo(23) Capítulo(24) Capítulo(25) Capítulo(26) Capítulo(27) Capítulo(28) Capítulo(29) Capítulo(30) Capítulo(31) Capítulo(32) Capítulo(33) Capítulo(34) Capítulo(35) Capítulo(36) Capítulo(37) Capítulo(38) Capítulo(39) Capítulo(40) Capítulo(41) Capítulo(42) Capítulo(43) Capítulo(44) Capítulo(45) Capítulo(46) Capítulo(47) Capítulo(48) Capítulo(49) Capítulo(50) Capítulo(51) Capítulo(52) Capítulo(53) Capítulo(54) Capítulo(55) Capítulo(56) Capítulo(57) Capítulo(58) Capítulo(59) Capítulo(60) Capítulo(61) Capítulo(62) Capítulo(63) Capítulo(64) Capítulo(65) Capítulo(66) Capítulo(67) Capítulo(68) Capítulo(69) Capítulo(70) Capítulo(71) Capítulo(72) Capítulo(73) Capítulo(74) Capítulo(75) Capítulo(76) Capítulo(77) Capítulo(78) Capítulo(79) Capítulo(80)

A chuva não dera trégua ao longo do dia, apesar de ter diminuído um pouco. Passar horas naquela cabana foi nos causando uma espécie de desatino, como ocorre nos animais selvagens quando aprisionados. Embora procurássemos nos distrair, falando do passado, de nossos dias em família (era dela que sentíamos mais falta), contando nossas desventuras, chegou uma hora em que o silêncio baixou como uma densa neblina, envolvendo-nos todos.
-- Não aguento mais ficar aqui, presa feito um bicho na jaula – disse Luciana, após um hiato. Ela era quem mais estava afetada por estarmos presos naquele pequeno espaço, no qual se resumia a cabana, cuja estrutura passara por algumas melhorias, ainda mantinha o mesmo tamanho de quando fora construída.
-- Também não – concordou Marcela. -- Ainda mais com essa fome. Vocês não estão?
-- Claro que estamos – falei. -- Quase não comemos hoje.
-- Já não tá chovendo tanto – afirmou Luciana, diante da porta, olhando para fora. -- Por que a gente não tenta caçar? Pelo menos a gente se distraí um pouco e sai dessa prisão. Não aguento mais ficar aqui sem fazer nada.
-- Eu vou. É minha obrigação. -- Levantei e, indo até o fundo daquela quatro paredes, apanhei o arco e a flecha. -- Não vou demorar.
-- Não é melhor alguém ir com você? -- perguntou Luciana. -- Eu posso ir.
-- Não seria uma má ideia – falei. -- Posso precisar de uma ajuda.
-- Então eu vou – adiantou-se. – Preciso sair um pouco.
-- Não. Temos de seguir as regras. Ana Paula foi a sorteada. Então só ela pode ir – disse Marcela. -- Ou ela ou ninguém.
Luciana me olhou contrafeita, mas não disse nada. Era a regra do jogo e teríamos de acatá-la. Para mim não fazia muita diferença a presença dela ou de minha prima. Quem eu queria que estivesse comigo não se ofereceu.
Saímos.
-- Pelo menos num tá gelada – disse minha prima, quando encaramos a chuva.
-- É verdade – concordei.
A chuva também afugentara as aves, como fizera com a gente. Diferentemente do que acontecia quando o tempo estava limpo, quando a praia estava repleta delas, não havia nenhuma. Estava tudo deserto.
Andamos até encontrar o pé de goiaba, quase do outro lado da ilha, e nada das aves. Era como se de uma hora para outra simplesmente houvessem desaparecido.
-- Isso te lembra alguma coisa? -- perguntei, recordando de como a chantageei dias atrás, onde tirei-a da árvore em troca de uma transa. Eu queria levar as últimas consequências aquelas sensações que Luciana me levava a experimentar, mas não de forma plena.
-- Sei idiota! -- exclamou, empurrando-me, o que quase me levou a perder o equilíbrio e cair na areia.
Ela começou a correr, como se quisesse escapar de uma nova investida. Não que ela quisesse fugir de fato; talvez ela quisesse, como fizera certa vez, instigar-me os instintos. Soltei o arco e a flecha e corri atrás dela. E não tardei em alcançá-la. Levei-lhe a mão no ombro e puxei-a. Como era mais franzina que eu, perdeu o equilíbrio e caiu sentada na areia. A cena não foi tão diferente daquela onde eu fizera a mesma coisa.
-- Pára, seu idiota!
Ajoelhei do lado dela e a empurrei para trás. Em seguida, rolei para cima dela e agarrei-lhe os braços, imobilizando-a.
-- Aí! Pára! Num quero – afirmou, batendo as pernas na tentativa de se desvincilhar.
-- Mas é sua vez. Você foi a primeira a sair – Nossos olhos se encontraram e mantinham-se fixos. Era como se ela me encarasse na tentativa de buscar nos meus olhos as minhas verdadeiras intenções.
-- Mas eu num quero hoje. Já disse!
-- Sua boba, não vou fazer nada. Nem tô com vontade – falei, sorrindo para ela.
-- Então me solta – pediu.
-- Só se você me der um beijo – falei.
Ela parou de se debater e levantou a cabeça, oferecendo-me os lábios. Ainda com os olhos fixos nela, sorri-lhe mais uma vez. Então aproximei os meus lábios e nos beijamos. Foi um beijo rápido, como se ela o fizesse como que por obrigação. Mas não era isso que eu queria. Cheio de ternura, queira que ela me beijasse de verdade, com desejo, como já tinha feito antes. Soltei-lhe os braços mas não sai de cima dela.
-- Me desculpa pelo que fiz mais cedo. Não queria te magoar – falei de forma ainda mais terna. -- Eu te adoro. Jamais seria capaz de te machucar – acrescentei.
Ela deu um sorrisinho tímido e me abraçou.
-- Eu também te adoro, mas num gostei do que ocê fez. Doeu.
-- Não vou fazer mais, se você num quiser – falei.
Ela não disse nada. Apenas apertou seus bracinhos em volta do meu pescoço e tornou a me oferecer os lábios, agora com ternura. O beijo foi mais longo, mais delicioso. Isso despertou-me sensações intensas, as quais eu não podia controlar. E por isso, enquanto a beijava, não pude resistir a tentação de levar a mão àqueles peitinhos e acariciá-los. Ela não me reprimiu; pelo contrário, não muito depois, abriu as pernas e deixou que meus quadris escorregassem no meio delas. Se antes não queria fazer amor comigo, aquelas carícias a fizera mudar completamente de opinião.
Eu ainda não estava excitado de todo. Mas aquele gesto apressou a coisa. Então meu pequeno falo que há pouco começara a dar pulinhos para frente, aumentou-lhes a intensidade e diminuiu o intervalo entre um e outro. Em seguida, a glande começou a deslizar pela vulva dela.
-- Ele tá crescendo – disse ela, como se quisesse me avisar, – ficando duro.
Eu não lhe disse nada, apenas meneei a cabeça afirmativamente.
Tornei a oferecer meus lábios. Ela os beijou com desejo. Minha língua procurou a dela e nosso beijo foi mais intenso e longo, tempo suficiente para que meu falo ficasse completamente teso.
Não tentei penetrá-la de imediato. Ainda me permanecia na memória a recusa dela. Então, se ela quisesse, que tomasse a iniciativa. Contudo, não vou negar que ansiava por isso e desejava possuí-la imediatamente. Apenas o orgulho me impedia.
Ana Paula, por sua vez, parecia esperar. Instintivamente aguardava a minha iniciativa. Normalmente era assim que acontecia com todos os animais nessa hora: era o macho quem forçava a barra.
Súbito porém, ela escorregou a mão entre nós. Levantei os quadris e esperei para ver o que ela ia fazer. Então pegou-me o falo e posicionou-o na cavidade vaginal. Só precisei soltar o quadril.
Nisso, a chuva engrossou. Voltou a cair um temporal. Não dava para continuar ali, debaixo de toda aquela chuva. Acabaríamos nos sufocando. Então, saí dela, dizendo:
-- Melhor deixar pra outra hora. Precisamos encontrar o que comer.
-- Mais tarde a gente faz – disse ela, com uma ternura que só uma fêmea ardendo de desejos e capaz de demonstrar. Aí aproximou os lábios e me beijando mais uma vez.
Se eu não estivesse apaixonado por Marcela, não teria a menor dificuldade em me apaixonar por aquela menina, mesmo ela sendo a minha prima.
Ajudei-a a se levantar. Ela olhou-me curiosamente nos quadris. Não que o meu estado lhe fosse novidade, mas excitado daquele jeito não havia como não lhe despertar a atenção.
-- E agora ocê vai ficar assim? Com ele desse tamanho?
-- Daqui a pouco passa. Antes da gente voltar ele já vai ter ficado pequeno de novo – afirmei. -- Vem! Vamos dar mais uma olhada. Eles devem estar escondido em algum lugar.
Seguimos em frente.
-- Se a gente estava escondida da chuva, eles também vão estar. Deve estar nas árvores – disse ela pouco adiante, quando não havia o menor sinal de aves na faixa de areia.
-- É verdade. Tem razão.
Passamos a procurá-las. Primeiro nas árvores próximas à faixa de areia. Como não havia muitas a beira mar, com exceção das palmeiras, decidimos pegar uma trilha e entrar na mata embora esta me metesse medo. E não demorou até que ela a avistasse. Estavam empoleiradas nos galhos de uma grande árvore cujas folhas as protegiam da chuva.
-- Olha lá quantas! Num falei.
Levei o dedo aos lábios, fazendo-lhe sinal para ficar calada.
-- Não faz barulho, senão elas podem se assustar – sussurrei-lhe.
Lentamente pus a flecha no arco, puxei e mirei em um pássaro branco com a cabeça preta; uma espécie de gavião. Por alguns instantes – cerca de um minuto – mantive a mira, esperando o melhor momento para soltar a flecha. Não poderia errar, sabia disso. Caso errasse corria o risco de espantá-las e anda por cima perder a flecha, a qual poderia ficar presa num dos galhos, bem lá na copa, onde talvez eu não conseguisse subir para apanhá-la. Ciente de que só teria uma oportunidade, meu coração passou a palpitar forte, como ocorre com um jogador cujo derradeiro lance pode significar a glória ou a desgraça e o ostracismo.
Quando me senti seguro, soltei a flecha. Por sorte esta acertou o alvo, atravessando o pobre pássaro o qual perdeu o equilíbrio e despencou.
-- Ainda bem que acertei – falei, quando o som da presa caindo sobre a vegetação chegou aos nossos ouvidos – se não a gente ia ter que dar outro jeito.
-- Ocê tá virando um bom caçador – deixou ela escapar enquanto corria para apanhar a ave abatida.
Corri atrás dela.
-- Não é grande mas, pelo menos, dá para mantar um pouco da fome – falei, arrancando a flecha do animal sem vida. -- Talvez a gente devesse tentar pegar outra – acrescentei.
-- Ocê que sabe – disse ela.
-- Vamos dar mais uma volta e ver se acha mais. Tem muitas nessa ilha.
Abracei Ana Paula pela cintura e voltamos à faixa de areia. Ali não as acharíamos mais. Haviam fugido para o interior da mata, onde eu não me arriscaria a ir com Ana Paula, sem que estivesse muito claro.
A chuva diminuíra novamente. Era o que vinha acontecendo ao longo do dia. Em alguns momentos chovia torrencialmente, noutros caía uma chuva mais fina, quase uma garoa.
-- Eu num sei o que ia ser da gente aqui sem ocê – disse minha prima. -- Acho que a gente ia morrer de fome – acrescentou. – nós três num ia consegui pescar e caçar assim que nem ocê.
-- Mas eu tô aqui, minha priminha fofa – falei, escorregando a mão para cima, até o minúsculo seio e apertando-o.
Ana Paula virou na minha direção e ofereceu-me os lábios. Soltei o arco e a flecha e, apertando-a contra mim, beijei-a. Enquanto a beijava, desci-lhe as mãos até as nádegas e as apalpei. Não foi um ato consciente, mas instintivo.
-- Desse jeito teu troço vai crescer de novo.
-- Ele já tá crescendo – falei, ainda segurando-a pelas nádegas. -- Sente só.
Como nossos quadris estavam colados, não havia como ela não notar.
-- Quer fazer?
-- Tô com vontade, mas a gente precisa continuar. Estou com fome – falei.
-- Você tá?
-- Com vontade de fazer?
-- É.
-- Um pouco.
Quando ela disse isso, soltei-lhe uma das nádegas e levei-lhe a mão no meio das pernas, introduzindo-lhe o dedo na vulva. Não o penetrei, apenas o escorreguei entre os grandes lábios, os quais estavam úmidos e pegajosos.
-- Tô sentindo – falei.
-- Seu bobo – disse ela, empurrando-me.
Abaixei, apanhei a flecha e o arco.
-- Vamos logo antes que eu mude de ideia e resolva meter em você.
Não estávamos muito longe da cabana, apesar de ainda não ser possível avistá-la. Aliás, como estávamos dando volta na ilha, eu conseguia avistar as pedras que atravessara mais cedo para pescar. Aquela imagem me remeteu a outra, ao ponto na faixa de areia, bem ali em frente, onde transamos naquela manhã. E ao me recordar de como a agarrara e, apesar de seus protestos, a penetrara analmente, o que a magoou profundamente, senti-me envergonhado até a alma. Um profundo arrependimento envolveu-me, com uma nuvem negra. Se pudesse tirar aquela faixa de areia da nossa frente ou apagar de nossas memórias a lembrança daquilo, eu não pensaria duas vezes. Mas tanto uma como outra não era possível. Aliás, poderíamos dar meia volta e tornar a contornar a ilha, mas o trajeto era longo demais e levaríamos muito tempo. Ainda sim pensei nessa possibilidade, principalmente porque sabia que seria inevitável ela se lembrar daquilo ao passar por aquele mesmo local. Talvez ela não se lembrasse de todos os pontos daquela ilha, mas aquele, por minha culpa, lhe seria inesquecível, ficar-lhe-ia registrado para sempre na memória, pois estaria associado a um ato violento e muito desagradável. Uma mulher é capaz de perdoar um ato de violência sexual, provocado por um membro da família, pois muitas vezes a unidade da família vem em primeiro lugar, mas jamais de esquecê-lo.
Por sorte deparamos com uma trilha.
-- Por que a gente não entra por aqui e tenta ver se acha mais algum? -- falei.
-- Pode ser – foi o que ela respondeu.
Não chegamos a penetrar na mata. Súbito, um som forte de galhos quebrando e vegetação sendo pisoteada, com se um grande animal corresse em nossa direção, alcançou-me os ouvidos. Eu paralisei, como se o medo me deixasse impotente. Súbito porém o instinto de sobrevivência falou mais alto. A minha primeira reação foi pegar na mão de Ana Paula e dizer:
-- Corre. Tá vindo atrás da gente.
Disparamos de volta à praia. Não sei se foi o arco ou a flecha, um deles se prendeu em algum arbusto. Abri a mão e os deixei para trás. Só paramos de correr quando, já sem forças, nos aproximávamos da cabana.
-- O que foi aquilo? – perguntou ela com dificuldade.
-- Não sei – respondi. -- Você também ouviu?
Ambos respirávamos ofegadamente. Estávamos quase sem forças.
-- Ouvi – respondeu. Em seguida acrescentou: -- Foi assustador.
-- Eu disse que tem alguma coisa aí de olho na gente, mas vocês não querem acreditar.
Voltamos a andar a passos rápidos. Queria chegar logo à cabana.
-- Eu num disse que num tinha acreditado. A Luciana e a Marcela que falaram que não tinha nada.
-- Agora que você ouviu, elas vão ter que acreditar – falei.
-- Cadê o negócio de caçar?
-- O arco e a flecha?
--É!
-- Perdi na corrida. Tá lá no meio do mato. Mas eu é que não volto lá pra buscar – falei. O medo me dominava até a medula. Nada, mas nada nesse mundo me faria voltar; talvez, amanhã, durante o dia, com todas as meninas. Ainda sim depois de muito relutar.
-- Que caras são essas? -- perguntou Luciana ao cruzarmos a porta. Marcela e Luciana estavam sentadas diante da fogueira conversando.
-- Um bicho na mata – falei.
-- Que bicho? -- quis Marcela saber.
-- Não sei. Só ouvimos o barulho. Aí saímos correndo – falei.
-- É verdade isso, Ana Paula? -- perguntou Marcela.
-- É.
-- Mentira dos dois. Eles estavam era com medo de alguma coisa e inventaram essa história – disse Luciana, como sempre, não acreditando em mim. Reparei nela e a vi toda molhada. Então deduzi que saíra na chuva.
-- Mas eu também ouvi. A gente entrô na mata para caçar, aí ouvimos alguma coisa grande vir em nossa direção. Aí saímos correndo.
-- Eu tô falando que tem alguma coisa. Mas vocês num acreditam.
-- Mas nós já vasculhamos tudo. Não vimos o menor sinal de alguma coisa – explicou Marcela.
-- E só trouxeram isso aí pra gente comer? -- perguntou Luciana, ao ver a ave na mão da Ana Paula.
-- Só. A gente tava indo atrás de mais quando ouvimos o barulho – explicou Ana Paula.
-- Tá explicado -- exclamou Luciana. -- Vai ver que os pombinhos ficaram se agarrando, esqueceram de procurar comida, aí encontraram só isso e como desculpa disseram que viram alguma coisa. Pelo menos você tirou o cabacinho dela?
-- Não foi nada disso. E não ficamos nos agarrando não – falei.
-- Que pena! Mas trate de tirar o cabacinho dela hoje, porque amanhã você é meu.
-- Vocês conseguiram ver o que era? -- quis saber Marcela, ignorando Luciana.
-- Não. A gente não viu nada – respondi.
-- Eu também num vi. Mas que tinha alguma coisa lá ah isso tinha. Era um barulho alto – afirmou Ana Paula.
-- Se o tempo melhorar amanhã, a gente dá uma olhada – disse Marcela.
-- A gente vai ter que ir mesmo. O Sílvio deixou cair o arco e a flecha, quando a gente saiu correndo.
-- Além de frouxo, ainda é incompetente – exclamou Luciana, como se que pensasse alto.
-- Para com isso, Luciana! -- esbravejou Marcela. -- Se não quer ajudar, não atrapalhe.
Luciana se calou. Súbito porém, disse:
-- Já que tem só isso, vamos tratar de limpar e assar. Tô com fome.
Foi o que fizemos; ou melhor: Marcela e Luciana. Ambas depenaram a ave e retiraram os órgãos internos. Das outras vezes, eles eram descartados e jogados na mata; dessa vez contudo, Marcela sugeriu aproveitar o coração e o fígado. Assim, foram parar no fogo.
A chuva praticamente cessara; apenas caía uma garoa fininha. No entanto, com o aproximar da noite, o pouco de luz daquele final de dia também desparecia. Aliás, parecia que já era noite, embora ainda não houvesse anoitecido. Num ponto distante, onde as nuvens diminuíram, via-se um ponto de luz.
Assim que a carne assou, cortamos os pedaços e dividimos em partes iguais. Cada um pegou a sua e a devorou. Mas sem pressa, para enganar a fome. Marcela havia dito que comer devagar engana o cérebro e a fome vai embora mais rápido. Luciana dizia que isso era mentira, ainda sim todos acataram a sugestão.
-- Já está anoitecendo. O tempo de vocês está acabando – disse Luciana.
-- Acabando? -- perguntou Ana Paula, como se não tivesse entendido a pergunta. Eu, por outro lado, entendi na primeira as palavras de Luciana.
-- É sua vez. Já esqueceu? E não fique fazendo cu doce. Dá logo pra ele e pronto – disse ela, como se falasse de algo trivial, corriqueiro até. -- Com essa coisinha que ele tem, você nem vai sentir.
-- Nossa! Que falta de sensibilidade! -- reclamou Marcela. -- Perder a virgindade é algo muito sério e importante. É um dos momentos mais difíceis na vida de uma mulher.
-- Eu não acho. Quando a oportunidade surgiu, não pensei duas vezes. Estava com vontade, dei na hora. Nem doeu. E não fez a menor diferença. Só não precisei mais ficar com isso na cabeça. Para mim, ao invés de problema, foi uma solução.
-- Pois pra mim é importante – discordou Marcela. -- Quero que seja um momento mágico.
-- Besteira sua. Aposto como os homens nem ligam pra isso. Se fosse não seduziriam uma mulher pura. No fim o que querem é transar e nada mais. Querem uma mulher pura, mas depois não dão a mínima. Esquecem.
Eu não sabia o que pensar e menos ainda o que dizer. Por isso fiquei calado, ouvindo as duas debaterem. O que me agradou deveras foi a afirmação de que seria um momento mágico. Essas palavras chegaram inclusive a me emocionar. Por pouco não deixei escapar algumas lágrimas.
Ana Paula, por também ser tão jovem, não parecia em condições de emitir opinião, por isso também se absteve.
Por fim, Marcela deixou escapar que aquele acordo não fora uma boa coisa. No fundo seriamos obrigados a fazer o que não queríamos, principalmente eu. No entanto, reconheceu que este seria uma forma de apaziguar as desavenças entre as três, já que, no fundo, a principal causa de brigas e desconfiança entre elas estava justamente no fato de eu ser o único homem ali, apesar de só ter 12 anos. Se no reino animal a disputa normalmente ocorria entre os machos por causa de uma fêmea, ali era justamente o oposto. Claro que isso não ocorria de forma totalmente consciente, pelo menos com relação à Ana Paula. Talvez tratasse de algo instintivo como ocorre entre os seres irracionais. Eu mesmo só fui compreender essa disputa muitos anos depois. De toda forma, essa disputa por mim não tinha mais sentido com aquele acordo.
-- Não consigo parar de pensar naquela coisa lá na mata. Tô morrendo de medo –falei. -- Eu é que não vou lá fora nessa escuridão – acrescentei.
Parara de chover mas o céu continuava nublado. O manto da noite envolvia toda a ilha e a ausência da Lua, encoberta pelas nuvens cor de chumbo, provocava uma escuridão nunca vista desde a nossa chagada àquela ilha.
-- Nem eu – acrescentou Ana Paula, como se dissesse que a nossa “primeira transa” não aconteceria naquela noite. Embora não me fosse difícil reacender as chamas do desejo, preferia que isso não fosse feito. Ana Paula seria capaz de saborear aquele momento com eu gostaria que fosse com tudo que passara naquele dia.
-- Tá meio assustador mesmo – declarou Marcela.
Não sei se ela disse isso para nos apoiar ou se de fato tinha essa impressão. Luciana por sua vez, não deixou por menos. Disse que assim ficava mais gostoso transar. Por fim acrescentou:
-- Mas se sua priminha não quer dar pra você, não tem problema. É só ela me passar a vez.
Ana Paula a encarou por alguns instantes, mas não disse nada logo de cara. Parecia indecisa entre ceder e aceitar a vitória da outra ou encarar o medo e mostrar-se forte, capaz de encarar o destino. Súbito, declara:
-- Num vô sai no escuro. Sei o que ouvi lá fora. O Sílvio também num vai. Então é melhor a gente ir dormi. Amanhã eu resolvo.
-- Também acho. Tivemos um dia difícil – disse Marcela.
-- Mas não pense que vai me enrolar. Amanhã é a minha vez. Nem que você tenha que transar com nós duas. Com ela e depois comigo. Você é homem, que dizer: um pirralho viril. E vai conseguir dar conte de nós duas muito bem.
Não se disse mais nada. No entanto, eu me sentia incomodado com aquela obsessão de Luciana por sexo. Era como se o seu único prazer na vida fosse a cópula. “Pelo menos ela num vai poder transar comigo toda vez que quiser. Vai ter de respeitar sua vez. Pelo menos nisso ela vai me dar um pouco de sossego. Senão era bem capaz de querer transar toda hora, como ela fazia”, pensei, deitando na cama.


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