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Eu até tentei cair no sono, mas a lembrança daquele som na floresta não me saia da cabeça, o que impedia de adormecer. Ainda mais que eu não compreendia o que poderia ser, pois ainda não o tínhamos visto e isso estimulava a minha imaginação, a qual, aguçada pelo medo, criava os mais variados e terríveis tipos de monstros. Dezenas e dezenas de vezes eu me inquiri do porque de nunca termos topado com ele. Eu não encontrava uma explicação, apenas suposições. Aliás, de todas as possibilidades, a que me pareceu mais plausível foi a de que se tratava de espirito maligno cujos sinais só surgiam quando eu cometia um grave pecado. “É isso! Foi porque eu enfiei o meu pinto na bunda dela. Eu pequei. Nós dois pecamos. Por isso dessa vez ela também viu. Luciana e Marcela. Por isso elas num vê. Ele estava atrás de nós por causa disso. Por isso eu também escutei aquele dia. Eu estava cometendo um pecado, fazendo aquilo com a mão”, conclui.
Ao chegar a tal conclusão prometi mais uma vez a não pecar mais. “Não quero minha alma queimando no inferno, como a daqueles pecadores da Bíblia”, pensei. Então, relembrei de todas as coisas erradas que fizera desde a chegada àquela ilha. Não eram poucas, tenho de confessar. Embora Luciana tenha me levado a cometer a maioria delas, ainda sim eu me sentia culpado, tanto por ter sido induzido quanto por não ter sido forte o bastante para resistir. Apesar da pouca idade, eu sabia quando estava agindo mal e de forma pecaminosa. “Não. Eu tenho que resistir. Num posso continuar assim, pecando...”, disse mais uma vez a mim mesmo, como um pai que insiste em aconselhar o filho incorrigível.
Vendo o tempo passar e nada do sono chegar, resolvi levantar. Olhei para um lado e Luciana dormia como uma pedra. Olhei para o outro e o mesmo se passava com Ana Paula; aliás, ela parecia sonhar com algo alegre, pois sorria.
Marcela estava sentada sobre uma pedra, a qual fazíamos de banco, diante da fogueira. Eu não podia vê-la de frente, apenas de perfil, mas parecia quieta e pensativa, como se algo a perturbasse profundamente. Não era a primeira vez a vê-la assim: ela tinha o costume de agir dessa forma quando estava para tomar uma grande decisão. Era a única a agir assim. Talvez por isso fosse a mais sensata de nós quatro.
Agachei ao lado dela, louco para tocá-la, acariciá-la e beijá-la.
-- Não consigo dormir – falei baixinho, para não despertar Ana Paula e Luciana. -- Fico pensando naquele barulho lá na mata o tempo todo – acrescentei.
Ela virou o rosto em minha direção, declarando:
-- Depois que clarear, vamos dar uma olhada. Mas não deve ser nada não.
-- É sim. Ana Paula também ouviu – insisti.
-- Pode ter sido uma ave batendo as asas na copa duma árvore ou um galho podre que caiu. Vocês se assustaram e pensaram ter visto algo. Não tem mais ninguém nessa ilha além da gente.
-- Não, não era – retruquei.
-- Bom. No escuro não dar para ir ver. Vamos deixar isso pra amanhã. Mas tenho certeza que não é nada e que isso têm uma explicação. Você vai ver.
Devido à paixão por ela, suas palavras tiveram um efeito grande sobre mim, mais do que o medo ainda a assombrar-me a alma. Como se ela tivesse o dom de convencer, senti-me aliviado e cheguei mesmo a concordar com ela, dizendo com meus botões: “Ela tem razão. Sô um muleque bobo mesmo! Vai ver que não é nada. Eu que fico imaginando coisas”, pensei.
Houve um breve silêncio, cerca de um minuto, onde cada um ficou com os seus pensamentos. Súbito, Marcela levantou-se dizendo:
-- Precisamos conversar sobre essa história de você se deitar com cada uma de nós.
Também levantei e, diante dela, olhando-a nos olhos, contemplando-a, como faz todo aquele arrastado pelas ondas do amor, perguntei:
-- Mas por quê? Num já tá decidido?
-- Porque isso não está certo – foi a resposta que deu. Súbito, pegou na minha mão e acrescentou: -- Vamos lá fora pra não acordar as meninas. Já parou de chover. A chuva não vai voltar por enquanto.
Por uns instantes pensei em recusar, ainda sobre o efeito do medo, mas o amor tem o poder de transformar o mais covarde dos homens num ser destemido, como nos velhos romances de cavalaria. E embora o medo continuasse ali, puxando-me para trás, senti-me forte o bastante para cruzar a porta e enfrentar o perigo lá fora. Assim, acompanhei-a.
Andamos poucos metros em direção ao mar sobre a areia úmida e pesada.
-- O que foi? -- preguntei ao pararmos.
-- Eu sei que isso pode acabar com as brigas entre Ana Paula e Luciana e até mesmo com implicação dela comigo, mas esse negócio de você ter que transar com nós três não foi uma boa coisa ninguém, nem mesmo pra você, o mais beneficiado, já que vai três mulheres e conseguir de mim o que não ia de outra forma – disse, fazendo gracejo.
Fiquei em silêncio. Não soube o que lhe dizer.
-- Não pense que não gosto de você. Não sei se te amo. Mas você mexe muito comigo, apesar de ser só um menino. Gosto de estar ao teu lado, de conversar contigo. Quando estou contigo, me sinto menos só nessa maldita ilha.
-- Eu te amo – interrompi, deixando bem claro os meus sentimentos para com ela. Aliás, as palavras saíram com ternura, como se assim procurasse convencê-la melhor.
-- Fico lisonjeada. Ainda mais que devo ser a primeira. Não é?
-- Primeira? -- perguntei, não entendendo o que ela queria dizer.
-- É. A primeira garota por quem você se apaixona. Primeiro amor. E dizem que o primeiro amor a gente nunca esquece.
Tomado pela timidez, apenas deixei escapar um sorriso sem graça. Súbito porém acabei confessando:
-- É sim. Sinto por você uma coisa estranha. Num sei dizer. Só sei que quero tá o tempo todo contigo.
-- Eu sei o que é. Mas mesmo assim, não queria que fosse assim. Sei que você deve estar louco para fazer amor comigo. Vejo como você me olha e me deseja. Não pense que eu não reparo. Mas preferia que fosse de outra forma.
Ela falava como se fosse mais velha, mais experiente. Dir-se-ia ter passado pela mesma experiência que eu estava passando ali. Talvez já tivesse se apaixonado por algum garoto da escola. O amor, como a puberdade, nascem juntos.
-- Não estou interessado em fazer essas coisas contigo. Só quero estar ao teu lado, te abraçando, te fazendo carinhos e te beijando – asseverei embora não fosse verdade de todo.
Eu procurava deixar claro que o sexo era irrelevante diante dos meus sentimentos por ela. Claro que eu a desejava e queria fazer com ela o que fizera com minha prima e Luciana. Ainda mais depois de vê-la nua. E provavelmente ela sabia disso. Eu a admirava com desejo embora procurasse não lhe manter o tempo todo os meus olhos por causa de Luciana, a qual eu temia como se teme um ser maligno. Muitas vezes porém, como ali diante dela por exemplo, era torturante resistir ao ímpeto de tocá-la. Era preciso fazer um esforço quase sobre-humano para não estender a não e tocar aquela tez delicada, aqueles seios perfeitos, cuja beleza me despertava os mais intensos devaneios.
-- Eu sei, Sílvio. -- Marcela estendeu a mão, tocando-me delicadamente no rosto. Não pude resisti e segurei-a pelo pulso e beijei-lhe a palma. Um mundo de sensações encobriu-me como densa neblina e, sem condições de contê-las, dei um passo, abracei-a e meus lábios procuraram os seus. -- Não, agora não! -- disse, pondo a mão entre os meus e os seus lábios. -- Primeiro, precisamos resolver o que vamos fazer.
-- Mas o que você quer fazer?
-- Não sei. Legalmente não há problema entre primos transar, muitos até se casam, mas Ana Paula é uma criança. Nem menstruou ainda. Não virou mocinha como eu e Luciana. Os peitos dela, só agora começaram a crescer. Você já deve ter reparado que eu e Luciana temos isso aqui – levou a mão à região pubiana, bem próximo da vulva – cheio de pelos e Ana Paula, pelo contrário, quase não tem ainda. A dela ainda está pelada. Não reparei direito mais só deve ter uns fiapozinhos.
-- Já sim – respondi.
-- Isso é porque ela ainda é uma menina.
-- Mas crianças também fazem essas coisas – falei, lembrando do que me primo fizera comigo. Embora ele já fosse um rapaz, eu tinha a idade de Ana Paula. No entanto, ao me dar conta do acabara de falar, fiquei tremendamente envergonhado, como quem comete um ato vergonhoso.
-- Como você sabe? Você já tinha feito antes?
-- Não. Claro que não! -- neguei categoricamente. -- Só falei porque um menino da minha classe disse que tinha feito com a filha da vizinha quando eles tinham nove anos. -- Era tudo mentira. Mas foi o que me ocorreu naquele momento.
-- Essas coisas não são para crianças. Nem pra você, na verdade. Você também é um menino. Teu pinto ainda é pequeno, como o de um garotinho. Olhá só! – ela reparou na minha virilha, o que me constrangeu. -- Só agora os pelos estão nascendo aí em volta dele. Nem bigode você ainda tem. Só uma meia dúzia de fiapos. -- Nisso deu um sorriso.
-- Mas já sou um homem – frisei, sentindo minha masculinidade ferida.
-- Eu sei. Não quis te ofender. Você é um garoto e tanto e vai se tornar um homem maravilhoso. Tenho certeza disso. Só que mesmo assim não está certo isso. Isso é bigamia. É crime até.
Abaixei a cabeça e por alguns instantes mantive os olhos fixos na areia. Nesse ínterim, procurava alguma coisa para dizer-lhe, algo que correspondesse às suas expectativas.
-- Mas a gente também não podia continuar do jeito que estava. Eu já não aguentava mais as ameaças da Luciana. Ficava com medo o tempo todo dela fazer alguma coisa com vocês. Pelo menos isso acabou.
-- Concordo. Sinto nela toda a crueldade e indiferença do mundo. Ainda sim acho que deveríamos encontrar outra solução. Isso até pode parecer vantajoso pra você agora, mas sendo obrigado a transar com todas, vai chegar uma hora que você não vai estar com vontade, mas vai ter que fazer. É tudo por obrigação.
Eu sabia disso. Já tínhamos tocado nesse assunto antes. Mas, querendo possuí-la, faria qualquer sacrifício.
-- Mas até lá, a gente já deve ter saído daqui.
-- Pode ser. Mas já não tenho tanta esperança de que vamos sair daqui tão cedo. Já estamos há cerca de um mês aqui e nada de alguém aparecer.
-- Mas a gente vai sair – respondi.
-- Espero que sim.
Eu não compreendia onde ela queria chegar, menos ainda a preocupação comigo e com Ana Paula, embora ela tivesse razão. Algo me dizia que Marcela, apesar de também gostar de mim, procurava uma saída para não me entregar a virgindade ali, naquela ilha. Aliás, veio-me à memória a lembrança de como ela se esquivou dias atrás, pouco depois de chegarmos ali, quando, durante um beijo, tentei acariciar-lhe os seios.
-- Você tá com medo? -- perguntei.
-- Medo? -- repetiu ela, surpresa.
-- É. De transar comigo? -- insisti. Precisava saber o que ela queria.
-- Não. Não é isso. Só não queria que fosse assim, obrigada a perder a virgindade dessa forma, como parte de um acordo. Não foi isso que sonhei.
-- E o que você quer fazer? Que a gente finja que transamos, só pra Luciana acreditar?
Marcela ficou pensativa por alguns instantes. Não posso dizer que tenha visto em tal proposta a solução, mas acredito que tenha ficado tentada em aceitá-la. Talvez, se não fosse suas convicções e compromisso em cumprir a sua parte do acordo, teria dito sim.
-- Até poderia ser uma solução. Mas não posso compactuar com uma coisa dessas. Não sou esse tipo de pessoa. Além do mais não seria justo. Principalmente contigo. Sei que você quer muito. Não adianta negar. Eu sei.
-- Eu num vô negar – respondi.
-- Só te peço que, quando a gente for fazer, tenha um pouco de paciência comigo.
-- Vô ter – falei, deixando escapar um largo e satisfeito sorriso, o qual, de certa forma, contradizia o que eu afirmara pouco antes.
Ela me retribuiu o sorriso e novamente levou a mão a minha face e a acariciou. Pensei em beijá-la, mas a última recusa me fez desisti. Esperaria pela iniciativa dela.
-- Espero que seja importante para você. A gente só perde a virgindade uma vez.
-- Vai ser.
Súbito, os lábios dela vieram em direção aos meus. Encurtei o trajeto. Foi um beijo inesquecível. Uma onda de sensações me atingiu e me deixou bambo, sem forças. Foi como se eu flutuasse, como se estivesse diante das portas do paraíso. Minhas mãos enlaçaram-na pela cintura e a premi contra mim. Isso fez com que o sangue fluísse em ondas, como num mar agitado, sob uma terrível tempestade. O falo começou a crescer e a roçar numa das coxas dela, já que estávamos colados um no outro. Em poucos instantes, fiquei excitado.
-- Calma. Ainda não estou na vez – disse ela momentos depois, quando se desvincilhou. -- Sou a última da lista. Lembrá?
-- Queria que você fosse a primeira – confessei, embora satisfeito como uma criança tirada do seio.
-- Mas não sou. Vai ter de esperar. Por isso, é melhor a gente voltar. Vai que alguma delas acorde e não vê a gente. Vai pensar que saímos para transar. Estamos quebrando o acordo, de você só sair sozinho com que estivesse na vez, lembra?
-- Lembro sim. -- respondi. No entanto acrescentei:
-- Mas elas num vai pensar não.
-- Por que não?
-- Se tivesse transado ele não estaria assim – expliquei. Embora houvesse um quê de timidez nas minhas palavras, eu sabia que não havia nada a ser feito para ocultar aquele estado, assim resolvi tirar proveito dele, até porque isso só reforçaria a minha masculinidade, a qual eu fazia, como tudo garoto dando os primeiros passos em direção à puberdade, questão de mostrar-lhe.
-- Tem razão. Ele é até bonitinho assim. -- Nisso, levou-me a mão ao órgão e o apertou. -- Nossa! Como fica duro!
Por pouco não a pedi para acariciá-lo, movendo a mão para frente e para trás. Mas não tive coragem. Isso estava além da minha capacidade. De mais a mais, não queria que ela soubesse que eu me masturbava.
Infelizmente ela retirou a mão e disse para retornarmos. Quando olhamos para a cabana, Luciana estava saindo.
-- Onde vocês estavam? -- Perguntou com ar de fúria, quando nos aproximamos. Via-se os olhos em brasa, como se uma força maligna a consumisse. Por pouco não a vi avançar sobre a outra.
-- Conversando – respondeu Marcela.
-- Conversando? -- Gritou, prestes a cometer um desatino. -- Vocês estavam era transando. Aproveitaram que eu e sua priminha estávamos dormindo e foi se deitar com ela, não foi?
Parecia completamente fora de si, feito aquelas pessoas que, incapazes de conter os impulsos, agem da forma mais irracional possível.
-- Pára com isso, Luciana! Não é nada disso! Estávamos só conversando, justamente sobre isso. Mas não fizemos nada. Só nos beijamos – expliquei.
Ana Paula acordou com a discussão e, um tanto confusa, perguntou:
-- O que tá acontecendo?
-- Seu priminho. Aproveitou que a gente estava dormindo e foi transar com essa vadia.
-- Chega, Luciana! -- esbravejou Marcela, tentando impor autoridade. -- Olha para o pinto dele. Vê se parece com o de quem acabou de transar! Você sabe muito melhor do que eu que ele não estaria assim se tivesse transado com alguém. Quer me examinar. Ver se ele enfiou o pinto dele em mim? Eu mostro. Já que você não acredita. Diferentemente de você, ainda continuo virgem.
Surpresa com a sugestão e com a forma contundente com que negou, Luciana sentiu-se acuada. Talvez ela tenha concluído que eu não estaria daquele jeito se eu tivesse transado com a outra. De mais a mais ela era uma garota experiente, e sabia com que Marcela tinha razão.
-- Não. Não precisa.
Os ânimos se acalmaram. Fez-se um silêncio, o qual perdurou um ou dois minutos. Luciana, vendo que passara da conta, desculpou-se com Marcela, a qual também se desculpou por se afastar da cabana às sós comigo, quebrando parte do acordo. Eu, no entanto, mantive a mágoa. Eu a conhecia bem, para saber como aquelas palavras não vinham do coração, mas da intenção de se parecer arrependida e evitar novos desentendimentos, já que isso só poderia prejudicá-la.
-- Aproveita que teu pau tá duro e é capaz de fazer alguma coisa, vai lá fora com tua priminha e faz o que vocês têm que fazer. -- Virou para Ana Paula e acrescentou: -- A não ser que você queira passar sua vez pra mim.
-- Não, num quero – respondeu minha prima com convicção, como uma criança birrenta, que contrariada recusa até mesmo um presente muito desejado apenas para contrariar os pais.
-- Então vai logo, pirralha! Deita com ele de uma vez que amanhã é a minha vez.
Minha prima se levantou.
-- Vamos, prima – estendi-lhe a mão e peguei a dela, -- vamos resolver isso de uma vez.
Saímos.
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