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Contos-->Ana Luisa e o Baú dos Horrores -- 03/02/2003 - 17:55 (JANE DE PAULA CARVALHO SANTOS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ana Luisa sabia que era dia, mas se recusava a por a cabeça fora das cobertas, o tempo estava congelando. Sabia que estava chovendo, porque as goteiras não a deixariam nunca esquecer este fato empolgante da madrugada: ping, ping, ping.
Há que se trabalhar, que jeito? Há que se ganhar o que comer, vestir e calçar... Grande bobagem, há que se ganhar algo para pagar os credores – nada mais. O chão tinha tantas poças d’água que Ana Luiza pensou em se banhar ali mesmo, dando um mergulho de ponta na lagoa azul do meio do quarto. Após tantos devaneios, Ana Luisa se esqueceu de olhar o relógio grande da parede que tiquetaqueava inclemente contando os atrasos, lembrando a voz esganiçada que a receberia na porta da firma...
- Merda!
Pulou as poças como pôde, não dava tempo de tomar banho, passou água no rosto e nos cabelos, dentes quase escovados, mesma calça de ontem, blusa amassada escondida sob o pulôver de sempre. Botas, botas... Vai sem meia mesmo.
Ponto lotado, excelente notícia, sinal de que o baú se atrasou também e a desculpa estaria pronta, mas após meia hora de espera, quinze pessoas a mais se apinhando embaixo da marquise e o desabamento de outra tempestade, reconsiderou o fato. A água subia e já encharcava os pés dos futuros passageiros – bom ter vindo de botas.
E lá vem o ônibus! Uma manada desordenada de hipopótamos numa aglutinação ensandecida na porta do coletivo, deixou Ana Luisa para trás. O motorista, talvez assombrado com tanta sutileza, zarpou antes do embarque de todos, deixando trabalhadores retardados, impropérios lançados ao vento e uma senhora jogada ao chão que, completamente enlameada pedia a alguém que anotasse a placa do ônibus para uma reclamação – procedente – futura.
Mais meia hora delongada, fome, angústia e mais chuva. E outro ônibus! Ana Luisa deixou pra trás qualquer pudor e foi a primeira hipopótama da manada em curso, garantindo sua incursão e permanência para afiançar um atraso de apenas hora e meia. Lugar pra sentar, nem pensar, aliás, nem lugar pra segurar havia... E do jeito que ainda subia gente, breve não seria mesmo necessário segurar, visto que todos os espaços internos do veículo seriam completamente preenchidos, não haveria inércia que movesse os cidadãos. E não haveria ar respirável também, pois as pessoas mantinham as janelas fechadas e os odores matutinos se misturavam todos, num perfume nauseante.
Chegando à cidade, as portas escoavam montes de carnes amassadas que se configuravam pessoas nas ruas e o carro seguia mais leve. Tudo seguia o curso normal, Ana Luisa achou até um lugar pra sentar, mas sua estatura bem acima da média e os saltos altos das botas forçavam os joelhos de encontro ao assento da frente – Ana Luisa avaliava se não seria melhor manter-se em pé mesmo – quando dois elementos marginais e criminosos adentraram o carro e renderam motorista e cobrador. Um elemento anão – certamente desempregado de algum circo de horrores – passou entre os passageiros uma sacolinha de mercado, recolhendo os pertences alheios que breve comporiam o cabedal de um receptador sem vergonha. O único bem de Ana Luisa era um talão de vales transporte completinho, recebido ontem, sem nem um amassadinho na orelha do papel. Adeus vales, alô dureza! Teria que pedir dinheiro emprestado até pra voltar pra casa hoje. Isso se ainda tivesse emprego quando chegasse, pois que já eram nove e ! meia da manhã e sol brilhava maravilhosamente na porta da firma – aqui mal havia chovido.
- Bom dia, Dona Adelaide.
~~

"acordo 7 horas
tomo um ônibus lotado
entro 8 e meia chego sempre atrasado
eu sou boy..."

(Kid Vinil - nos longínquos e selvagens anos 80)

jane_de_paula@yahoo.com



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