- Paie, eu posso convidar o Serapião pra brincar aqui no quintal comigo?
- Quem é esse Serapião meu filho. Você arrumou algum novo amiguinho que eu não conheço?
- Não é nenhum amiguinho não pai. Serapião é um caraçu - ave de penas negras, muito comum no Japão, conhecido como corvo no Brasil e que é tido como um pássaro de mau agouro - que eu brinco com ele, todo dia, quando vou pra escola. A mãe deixa eu levar um pedaço de carne e ele já come na minha mão. Ele é legal pai e Serapião fui eu que pus esse nome nele.
- Ai filho... você e sua imaginação. Pode sim, mas eu duvido que ele venha. Ele não vai entender quando você falar pra ele vir.
- Vai sim pai. Eu falo com ele e ele até me responde. Ninguém entende o que caraçu fala, mas toda a vez que ele faz CRAA ta falando alguma coisa. O Serapião faz CRAA pra me dizer bom dia, pra perguntar como eu estou e até pra dizer que gosta de mim. Eu entendo tudo o que ele diz. Ele é um bicho legal pra burro.
“Crianças, como é bonita a vida para eles.
Tanta inocência e tanta imaginação criando belas fantasias. Pena que a gente cresce”, ele pensou.
No sábado, lá pelas dez horas da manhã, o pai do menino saiu no quintal. Tinha dormido até tarde e estava ainda sonolento. Por esse motivo se assustou quando ouviu o barulho de um grasnar estridente.
CRAA, CRAA, CRAA.
Ele olhou para os fios eletricos, que havia em frente a sua casa, e viu um enorme pássaro negro gritando.
CRAA, CRAA,
Sentiu muita raiva, por causa do susto que tinha levado, e falou aos berros com o animal:
- Chô pássaro agourento. Sai, sai. Vai pousar noutro lugar seu bicho feio.
- Paie, você falou que eu podia convidar o Serapião pra vir brincar comigo e agora fica gritando com ele, o menino falou saindo pela porta da cozinha.
- Espera ai Serapião, ele falou se dirigindo ao animal que olhava curioso, pousado no fio elétrico.
Saiu correndo e foi até a cozinha. Quando de lá voltou o menino foi até o meio do quintal e se ajoelhou. Estendeu para o animal sua mãozinha aberta com um pedaço de carne nela.
O animal voou e veio pousar no chão de terra do quintal. Caminhou ressabiado, com o seu andar desengonçado, até onde estava o menino, e o seu bico pegou o pedaço de carne que lhe era dado.
Depois que engoliu a carne o caraçu soltou um estridente CRAA e voou de volta para o fio elétrico.
- Não precisa agradecer Serapião. Toda vez que você vier aqui em casa eu vou te dar um pedaço bem gostoso de carne.
Meu Deus, esse moleque vai acabar me fazendo acreditar que bicho fala, o pai do menino pensou maravilhado.