O “Santo das Bichas”

Elas estavam á caça desde o início da noite e sentiam-se deprimidas e frustradas com o azar que estavam dando. Afinal, nunca tinham ficado ali mais de uma hora sem conseguir a companhia de um garoto bonito, de um coroa depravado ou mesmo de um bi interessante que a troco de uma grana topava tudo e as enrabava.
Merda de noite! Como sempre chegaram juntas, foram levadas para uma boa mesa pelo garçom que as conhecia e até gostava delas, e em menos de meia hora um garotão lindo bebia com elas. Era alegre e divertido, bastante educado e elas antecipando a noitada que teriam pela frente com ele não economizaram na despesa. Ele tomou vários choops, duas ou três doses da bebida mais cara do cardápio e se deliciou com uma enorme porção de frutos do mar. Numa certa hora pediu licença e foi conversar com outra “bicha” que estava sozinha no balcão. Saiu com ela e ao passar pela mesa que estavam sentados falou descaradamente:

- Desculpem meninas, mas surgiu um negócio importante e vou ter de sair um pouco. Daqui a pouquinho eu volto pra gente tomar mais umas, me esperem.

O “bofe” saiu, com a “croaca” toda sorridente e faceira, e não voltou mais.

Desesperadas, cansadas da espera e irritadas elas pareciam ás únicas pessoas infelizes ali naquela madrugada, pois apesar de serem poucos os fregueses daquele bar gay àquela hora, todas as outras que ali estavam se comportavam sorridentes e cheias de muita frescura.
Uma delas, ofendida com o abandono do garoto olhou para os lados, deu um bocejo bastante escandaloso e disse para a outra:

- Não agüento mais este lugar Dodô. Ta me dando nos nervos ficar aqui.

- E a gente vai pra onde? Essa hora sair por ai sem rumo pode até ser perigoso, e aqui é o único lugar que ainda se pode dar uma sorte. Quem sabe aquele menino que estava com a gente não volta?

- Que volta nada! O filho da puta encheu a cara e a barriga as nossas custas e agora deve estar comendo o cu daquela vagabunda que saiu com ele. Ingrato, vou acender uma vela pro “Santo das Bichas” e pedir pra deixar ele broxa.

A outra deu uma sonora gargalhada.

- Ta rindo do que? Acha engraçado gastar a maior grana com um carinha, que nos deixa aqui com o cu coçando e sai com outra “bicha” descaradamente. Juro que não é inveja nem despeito, to sentindo o maior ódio dele.

- Só to achando engraçado á sua devoção pra esse seu Santo!

- Engraçado por quê? Todo mundo tem um Santo de sua devoção e só por que nasci “viado” não tenho direito de ter o meu?! Sou devota e conheço a força desse Santo.

Essa conversa maluca continuou entre elas por um bom tempo e nada de aparecer uma companhia pra terminarem a noite. Faltava pouco pro dia clarear quando a amiga da Dodô falou:

- É não tem jeito mesmo, o negócio é a gente ir pro apartamento de uma vez.

- Mas só nós duas? O que vamos fazer lá nesse desespero que nos encontramos. Precisamos de “pica” urgentemente. Se ao menos pudéssemos enrabar uma a outra, mas nem a minha e nem a sua nunca sob! Como vamos fazer?

- A gente faz um 69 e chupamos nossos paus moles mesmos, enfiamos uma o dedo no cu da outra e usamos aquele vibrador de silicone que te dei de aniversário pra nos consolar. E se a gente for a até lá a pé pode até dar sorte no caminho e encontrar um negrão de “pica” enorme disposto a comer nós duas, a esperança é a última que morre querida!

- É, parece que não sobra mesmo opção! Paga a conta e vamos sair daqui, pois qualquer lugar é melhor que esta merda hoje. Vamos atrás dessa sua esperança e se a gente não encontrar ela você vai ter que enfiar qualquer coisa no meu rabo pra parar essa coceira que ta me torturando. Só assim vou conseguir dormir.

CARLOS CUNHA
O Poeta sem limites