Cisterna do Poeta

Ela era chamada de Irmã Clarissa e era uma freira muito bonita. Um dia apareceu no convento, em que morava, um jovem padre que era muito belo. Apesar de roto, machucado e ferido nas andanças de sua peregrinação pela vida. O recebeu, deu-lhe abrigo, e...

CARLOS CUNHA

ADORMEÇO NO PALCO DA CERTEZA

Toques de peles meladas, dos corpos que rolam sob o lençol macio. De mãos carinhosas e sensíveis ao tremor que causam na carne amada e desejada com suas carícias. Intercâmbio silencioso, em que só o ranger da cama e os gemidos prazerosos invadem o ar. O pôr do sol calmo penetra nas frestas da cortina. É quase noite e vivo minuto a minuto enquanto minha alma delira e minha carne arde em contato com a sua. Você me beija, afaga, deseja. Eu oferto altares à beleza da noite que chega, mesmo sem lua e sem estrelas. Conservo em estado puro a leveza dos sentimentos. Nós roubamos o tempo, ele é só nosso, somos livres. Juntos, eu e você somos um só na embriagues desta noite. Arrepia-me saber-te minha. O nosso amor é suficiente para poetizar um mundo feliz. Amo-te em demasia. Adormeço no palco da certeza, por saber-me querido, amado, feliz e capaz de retribuir o amor que recebo. CARLOS CUNHA / o Poeta sem limites

Charlei Lane & Mindiy Main

Arquivo do Poeta / Amante de um homem muito sério

Quando nasceu o batizaram com um nome pomposo, o chamaram de Cláudio Amadeu de Aragão Neto. Ainda menino, na adolescência e por muito tempo, foi tratado por Claudinho por todas as pessoas. Criança precoce, o Claudinho só dava contentamento aos seus. Desde pequeno sempre foi uma pessoa esperta e ativa.
Teve uma infância sadia em que recebeu muito carinho dos pais e de toda a família. Quando foi para a escola ele nunca deixou de ser um dos melhores alunos, sempre sendo um dos primeiros em todas as matérias, no esporte e se destacando em sua vida social entre seus amigos. Nasceu em uma família de nome conceituado e com certo poder aquisitivo, por isso pode fazer a sua faculdade. Nela ele continuou sendo um aluno aplicado como sempre havia sido.


Mesmo na época em que todo jovem só pensa em namoro e em curtir a vida ele não mudou. Foi sempre um rapaz sério e totalmente dedicado à família e aos seus deveres. Não se envolveu com drogas e em festas de embalo, como a maioria dos amigos da universidade, e passava o tempo todo estudando compulsivamente. Nessa época ele era chamado pela rapaziada de “Claudinho cu de ferro”.
Como recompensa, todas as férias ele passava na fazenda da família ou ganhava uma viagem ao exterior. Não tinha tempo para farras ou orgias com mulheres. Dedicava todo ele em aprender e se preparava para ser alguém na vida, recompensando com isso aqueles que o amavam e que tudo fazia por ele.


Nada lhe faltou na vida. Foi preparado e estimulado para ser um grande homem. Dedicou-se a isso e depois de formado, com a ajuda financeira e posicional de sua família, conseguiu um lugar de destaque no campo profissional que escolhera.
Tornou-se um advogado de renome internacional e ninguém mais, além de sua mãe que agora tinha os cabelos brancos e era uma matrona respeitada, lhe chamava de Claudinho. Por todos era conhecido e chamado respeitosamente de Dr. Aragão.



A única mulher com que ele se relacionou e se permitiu ter algum contato mais íntimo foi com uma prima, a Magali. Moça séria e muito respeitada, ela foi desde pequena à escolhida por sua família para ser a sua esposa. Tinha a aprovação, o apoio e era a opinião de todos que ela seria a mulher ideal para o Claudinho. Como ele só tinha interesse por seus estudos, foi passivamente deixando se envolver nesse relacionamento, que era tão desejado por todos em sua volta. Logo depois de formado casou-se com ela. Não foi um casamento por amor, mas ninguém pode dizer que foi um casamento errado.
Magali lhe tem sido uma ótima esposa. Deu a ele um casal de filhos. Crianças sadias e inteligentes que são motivo de orgulho para ele como pai.


Ela é no dia a dia uma mulher dedicada e respeitosa que zela pelo seu nome e se comporta com dignidade dentro da sociedade a qual eles pertencem. Os amigos o consideram e respeitam e muitos deles sentem uma pontada de inveja da posição e da estrutura familiar que ele tem.
Dr. Cláudio Amadeu de Aragão Neto, homem sério e bem sucedido, pai de família prestimoso, marido fiel e respeitado. Ele lutou para ser alguém e conseguiu. Todos julgam isso e afirmam não haver homem mais merecedor do que tem. Que ele conquistou tudo se comportando sempre de maneira idônea, sendo honesto e nunca fazendo algo que pudesse manchar o seu nome.


Em casa ele é tido como um pai de família exemplar. Sai do trabalho e para ela se dirigi, chega sempre sóbrio e carinhoso com os seus filhos. Marido dedicado, ele nunca vai tomar uma bebida com os amigos ou passar algumas horas se divertindo antes de ir para lá. Homem de horários rigorosos, nunca chega atrasado no trabalho ou para seus compromissos marcados. Seriedade é uma marca constante em sua vida.
Ele viaja muito. Sempre se ausenta por dois ou três dias e diz ter de fazer uma viagem de negócios. Tem sempre um cliente no exterior que precisa dos seus serviços e com isso suas ausências são normais tanto no escritório como no lar.


Numa quinta feira à noite, depois do jantar, o Dr. Aragão falou para a sua esposa:

- Querida, amanhã cedo eu vou até Nova Iorque para atender um cliente. Devo ficar lá por uns dois dias. No sábado à tarde eu estou de volta.

- Você e suas viagens. Não sei como é que consegue trabalhar tanto. Eu nunca vi uma pessoa tão dedicada ao que faz como você, meu amor.

- É preciso meu bem. Só o meu trabalho me realiza. Sem ele eu seria uma pessoa vazia e sem objetivos, ele respondeu seriamente, ao comentário cheio de elogios feito por sua mulher.


No outro dia ele se despediu carinhosamente de Magali e foi para o aeroporto. Quando chegou a Nova Iorque, depois de um longo e cansativo vôo, pegou um táxi e foi direto para o hotel cinco estrelas que costumava ficar sempre que ia naquela cidade.
Ao chegar ao hotel ele fez o registro, pegou as chaves da suíte em que sempre costumava se hospedar e subiu até ela para tomar um banho e descansar um pouco. Depois de tomar uma ducha ele, vestido com um caro roupão de banho, sentou-se ao lado do telefone e discou um número que há muito tempo sabia de cor. Ao atenderem do outro lado da linha o Dr. Aragão ouviu uma voz grossa e de timbre marcante que disse:

- Alô, pois não?

- Oi, sou eu. Cheguei, há duas horas, e estou na mesma suíte de sempre, respondeu o Dr. Aragão que soube imediatamente quem era que tinha atendido ao seu telefonema. Aquela voz era inconfundível para ele.


Meia hora depois tocaram a campainha da suíte em que o Dr. Aragão esperava pela pessoa para qual havia ligado. Ele foi atender a porta. Ao abri-la encheu-se de felicidade quando viu um jovem de cor negra que tinha o porte físico de um grande atleta. O rapaz entrou, encostou a porta e o Dr. Aragão jogou-se em seus braços dizendo:

- Ai meu amor, eu estava morrendo de saudades. Não via á hora de vê-lo novamente.

Seus lábios se encontraram em um beijo apaixonado e o Dr. Aragão segurou carinhosamente o pau rijo e enorme do seu amante, um lindo negro americano.

CARLOS CUNHA / o Poeta sem limites

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