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Infantil-->A Corujinha Feliz ( página refeita ) -- 01/10/2002 - 04:23 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos































A Corujinha Feliz






Todos conheciam e gostavam muito da Marilda.
Ela morava em um nicho que havia na madeira que formava a extrutura da velha e alta torre da igreja.
Gordinha e bonachona, tinha as bochechas salientes e o corpo arredondado. Por ele ser coberto de penas rajadas, a impressão que se tinha de sua fofura era muito maior.
Suas pernas fininhas e frágeis tinham na ponta duas garras com unhas muito compridas e bem cuidadas. Ela as aparava, lixava e, se não bastasse, trocava a cor do esmalte que usava toda a semana.
Muito vaidosa e aseada, ela tomava diariamente um demorado banho no chafariz da praça, junto com os pombos e os passarinhos.
Ela era e se comportava de maneira muito diferente de todos os outros animais de sua espécie.
Como todos eles, ela tinha a visão muito sensível e seus olhos eram frágeis na claridade.
Isso não fazia com que ela dormisse de dia e que ficasse acordada durante a noite olhando pra lua que nem lobisomem.
Adorava viver intensamente e estar sempre cercada de atenções.
Na noite estava sempre sozinha, quieta e sorumbatica, agarrada a um galho.
Durante o dia a vida era diferente, sempre alegre e animada. Nele os animais brincavam e se divertiam com muita intensidade.
Não, ela não podia ser como as outras. Arranjara um óculos de lentes negras e assim podia ficar acordada o dia todo sem que a luz do sol a incomodasse e a fizesse sofrer.
Todo dia você encontra a Marilda conversando, paquerando e brincando com os outros animais. Ela é uma corujinha diferente. Dorme de noite e durante o dia está sempre cheia de vida e alegria.





CARLOS CUNHA
O Poeta sem limites





























Arquivo do Poeta / Quem nasceu primeiro, o ovo ou a pata?



Quem nasceu primeiro, o ovo ou a pata?

Tem um grande rio em que eu costumo passar horas na sua margem, conversando comigo mesmo em meus pensamentos.
Nesses devaneios sempre surgem indagações filosóficas profundas, que tornam as perguntas de Sócrates, Platão e outros grandes filósofos, coisas banais e sem importância.
Teve um dia em que eu estava sentado na beira de um barranco, com o pé dentro d água, olhando alguns patos selvagens que nadavam em círculo, dentro de um rítmo calmo e compassado lá no meio do rio. Foi nessa hora que surgiu uma grande dúvida para mim.
"Como, só de olhar, a gente pode saber que um pato é pato, ou se ele não é pato, é uma pata?"
Procurei por muito tempo por uma resposta, mas como eu não entendo nada de pato me foi impossivel encontra-la.

Vocês perceberam que eu sou um grande filósofo e quanto são profundas as minhas preocupações?
Só que eu também tenho o meu lado prático e sempre encontro respostas inteligentes para as minhas dúvidas.
"Só de olhar é dificil, eu pensei, mas se a gente pega um pato pelas pernas, segura ele de cabeça pra baixo e olha se ele tem pindem, fica fácil. Se o pato tiver pindem é que de fato o pato é pato, mas se ele não tiver pindem é porque o pato é uma pata"
Viram o quanto eu sou inteligente e com que facilidade eu encontro respostas para problemas de dificil solução?

Teve uma hora em que um pato abandonou a formação circular em que os patos nadavam e foi para um banco de areia próximo, sentou-se bem no centro dele, onde permaneceu por todo o tempo em que eu fiquei ali.
No outro dia, quando eu lá voltei, vi que o pato estava sentado no mesmo lugar.
"Será que esse pato é um pato filósofo, eu pensei. Estará ele pensando nos problemas existenciais dos patos, indagando a si mesmo quem é que foi que nasceu primeiro, o ovo ou a pata?"

Todos os dias daquela semana eu lá estive, e sempre encontrei os patos nadando como se bailassem sobre a água. Só aquele pato estava sempre sentado quieto, dando a impressão que passava ali as suas horas a meditar.
No sábado, quando eu lá cheguei, eu vi que o pato não estava mais no banco de areia.
Sentei-me perto da margem e pouco tempo depois surgiu um pato, a alguns metros de mim, caminhando pomposamente. Era o mesmo pato que eu vira o tempo todo lá sentado.
Pela primeira vez eu soube diferenciar, só de olhar, um pato de uma pata.
Seu andar pomposo era acompanhado por três patinhos feios, que caminhavam desengonçados atrás dela os seus primeiros passos.
Aquele pato que eu vira sentado durante horas em um banco de areia, era uma pata que chocava pacientemente os seus ovos.





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