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Erotico-->Dasdores, a grande paixão de um corno! ( conto ) -- 01/08/2009 - 10:21 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


















Cisterna do Poeta


Entraram em um grande salão que estava cheio de jovens como eles se divertindo. Vários deles dançavam no centro um roque pesado, que rolava no aparelho de som, enquanto outros se divertiam de outra maneira. Dois casais trocavam carícias no sofá maior, uma loira que estava ajoelhada em frente um carinha e fazia uma chupeta pra ele, cheia de vontade, e um outro rapaz de barba aparada beijava na boca um garoto que batia uma punheta pra ele. Na ponta de uma mesa que tinha ali, numa bandeja de prata que havia sobre ela com várias carreiras esticadas nela, uma rapaziada em volta cheirava uma farinha. O Zé Carlos foi o primeiro a dizer alguma coisa e falou admirado para as irmãs: - Puxa meninas, vocês disseram que vinham pra uma balada e usaram a palavra certa.


CARLOS CUNHA

















Dasdores, a grande paixão de um corno!




Sobre o criado mudo tem um cinzeiro, bem grande, cheio de cinza e pontas de cigarro. Ao lado dele uma garrafa de cachaça quase vazia, contendo apenas três dedos do seu conteúdo. No chão se encontra um copo quebrado e desmaiado sobre a colcha amarela e toda amarrotada da cama, que há vários dias não é desfeita para que alguém durma nela, ele delira e tem pesadelos que lhe trazem a imagem de uma linda mulata nos braços de um outro homem.
Lágrimas grossas escorrem dos olhos dele que está totalmente embriagado. Nem o grande porre que tomou para se esquecer da mulata o ajudou a aliviar a dor que sente por causa da ausência dela, a mulher que é por ele tão amada e que o abandonou por causa de um outro homem.
Uma máscara de desespero cobre o rosto angustiado do pobre coitado, nesse seu delírio alcoólico, enquanto sua boca solta uma gosma branca e murmura repetidamente o nome dela:

- Dasdores! Dasdores! Por que Dasdores?!

Ela vai voltar, como das outras vezes em que se foi e ele sabe disso. Voltará talvez amanhã de manhã bem cedido ou então pode demorar mais um dia ou dois, mas ela sempre volta. Vai entrar pela porta e fazer com que o coração generoso dele se encha de felicidade por ela estar ali, pedirá perdão, mais uma vez, e ira jurar estar arrependida. Dirá que está arrependida e que é ele o seu amor verdadeiro. Que foi loucura o que fez que só é feliz ao seu lado e que precisa dele para viver.
Ele vai abrir os braços e envolvê-la, cheio de carinho por ela, e perdido em sua paixão nem vai lembrar do pesadelo que foi a sua vida nas últimas horas. Nada mais lhe importa do que a presença dela. Com ela ao seu lado não existem dores, angústias e infelicidades para ele.
Precisa sentir o cheiro dela, apalpar a sua carne escura, quente e macia para se sentir vivo. Da presença faceira e primaveril dessa mulher, ao seu lado, para não sentir a sua alma morta.
Os porres que então vai tomar serão sempre nas festas com samba de roda e a linda mulata em seus braços. Estará sempre cantando um samba, com a voz meio atrapalhada, que fala de flores, de paixões e de amores. Sua vida será assim até a hora em que a mulata se engraçar de novo por um outro moço bonito. Então o pobre coitado vai ser de novo machucado, ficar desesperado e se embriagar para tentar esquecê-la. Se entregar à cachaça por muitas horas, até que a mulata resolva voltar para ele.
O amor que ele sente por essa mulata é forte demais e ele não vive sem ela, precisa tê-la ao seu lado para não sucumbir. Como dói a paixão que esse pobre homem sente por essa mulata charmosa, dengosa e tão malvada chamada Dasdores.




CARLOS CUNHA
O Poeta sem limites



















Phoenix Marie







Arquivo do Poeta /O velório de um “viado” sábio




O velório de um “viado” sábio



Ninguém nunca tinha visto um funeral tão florido e exótico. Nem mesmo o passa mento de pessoas famosas, que atraia o povo, suas lágrimas, e suas lamúrias, conseguira superar aquilo que parecia mais uma exposição internacional de flores. Era o velório do tio Ditinho.
O falecido era muito querido. Professor estimado por todas "elas", era quem tinha ensinado as técnicas de amor e de depravação à todas as "bichinhas" adolescentes do bairro. Transmitira á elas todo tipo de sacanagem, com saber e experiência, transformando os moleques viadinhos em viados preparados.
"Todas" sentiam a mesma dor e uma pressão idêntica sobre os seus corações. Aquelas "bichas" que estavam ali amavam e muito deviam para aquele via do cheio de saber, esse comprovado por técnicas passadas aos viadinhos que os transformava em "bichas" felizes e realizadas.
"Todas" eram escandalosos, mas naquele momento se faziam "meditativas" e em silêncio agradeciam ao falecido a felicidade que haviam conseguido na vida.
"Solemar" - Jose Francisco de Almeida Troncoso - vestida a rigor para com a ocasião, dentro um longo preto, usando muita pintura no rosto meloso e calçando sapatos de verniz coloridos que fazia par com o chapéu escandaloso que tinha na cabeça, sorria por dentro e lembrava-se das palavras do velho e bom tio Ditinho:

-"Querida", se você não se entregar totalmente e não vier a realizar o homem que escolheu ele nunca será seu de verdade. Você deve entregar-se de tal modo, e com tal velocidade e perícia, que o faça tonto entre os prazeres que estiver sentindo. Deve ainda levar o seu carinho a tal ponto que o domínio do relacionamento seja só seu, para que o gozo, a realização dos prazeres e da depravação seja algo que venha a ser de seu controle absoluto.

Sábio, sim ele era um viado velho cheio de sabedoria, essa era uma certeza vívida em "Solemar" naquele momento em que meditava em sua própria vida, nos seus prazeres e no seu homem - que era só seu. Enquanto "as outras" viviam atrás de qualquer homem, sem ter carinho e sem receber amor ela era feliz e tinha consciência que devia toda essa felicidade para aquele "viado velho" que estava sendo velado.
E o velório ia transcorrendo, pelas horas que passavam, em um ambiente de paz, flores e viados sorridentes, até que...



De repente gritos desesperados surgiram nas gargantas das "bichas" presentes ao velório, muitas desmaiaram e uma chuva de flores despencou sob os pés que saíram em uma correria desesperada. O velório passou a ter um clima de confusão carnavalesca. Entre o desespero das "bichas" o tio Ditinho, que não havia morrido, mas tinha tido apenas uma crise cataléptica, levantou-se do caixão e perguntou:

- "Queridas, pra quem é a festa afinal?! É alguma surpresa pra mim?"




CARLOS CUNHA / o Poeta sem limites




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